domingo, 29 de janeiro de 2017

A dúvida sobre o uso do Chiripá pelos Gaúchos: fala Paixão





Buenas moçada, como vão?

Talvez hoje já estejamos acostumados a ver o Chiripá sendo amplamente utilizado pelos grupos de dança, porém ainda causaria muita estranheza caso alguém fosse visto na rua o utilizando. Agora imagine você, quando esta peça foi reconstituída pela primeira vez... "UM GAÚCHO USANDO SAIA?? MAS O QUE É ISSO CHE? ISSO NUNCA ACONTECEU!!!"

Com certeza esses comentários aconteceram.

Para tentar explicar um pouco sobre esta peça, recorremos ao livro "O Gaúcho: Danças Traje Artesanato" de João Carlos Paixão Côrtes. Todas as descrições, e maior riqueza detalhes inclusive, podem ser encontradas a partir da página 135.

“Sant’Hilaire (1820/21) fala do hábito de “ponchos grosseiros a guiza de chiripa, entre os negros”. Em torno da mesma época, um outro viajante francês, Arsene Isabelle, escreve: “O chiripa é também um tecido de lã encarnada, azul ou verde, nunca de outra cor que posto em torno dos rins, cai abaixo do joelho, como túnica”.

“Nicolau Dreys que esteve pelo largo período de 1817 a 1838 viajando pela Província de São Pedro, atendo-se ao vestuário do gaúcho, diz: “não tendo vestido senão o estrito necessário, isto é, o chiripa, pedaço de baeta amarrado em redor do corpo, da cintura para baixo; por cima do chiripa o cingidor espécie de aventar de couro cru.”

"Calde e Fião em seu romance Corsário, escrito por volta de 1851, ao descrever moços vestidos à gaúcha, descreve “chiripas com franjas”.

“Cezimbra Jacques, também dos fins do século passado, nos fala dos gaúchos primitivos usando chiripa.”

“Não podemos olvidar, o comentário feito ao final do romance O Campeiro Rio-Grandense, de João Mendes da Silva (1884), quando diz: “Chiripá – pano que os gaúchos rio-grandenses, à imitação dos orientais, passam por entre as pernas e sobre as ceroulas, indo prender na cintura. É só usado pela gente baixa, peões de estância”.

Pois bueno, se foram encontradas tantas referências quanto ao uso desta peça, fica muy claro que ela de fato existiu, e até por isso foi reconstituída e até hoje é utilizada. Imagine que este livro foi escrito na década de 70, onde a peça ainda não estava clara para todos...

Seguem abaixo todos os comentários a qual julgamos mais importantes, retirados da obra sobre esta peça, onde Paixão Côrtes descreveu com o máximo de detalhes que possuía conhecimento:

“Mas foi no ano de 1962 que os Centros de Tradições tomaram conhecimento da reconstituição do mais primitivo abrigo (da cintura para baixo) usado por aquele que se chamou de gaúcho. Mesmo em contribuições ou trabalhos enviados a Congressos Tradicionalistas, nada se registrara de parte dos estudiosos, ficando muito em apenas citações bibliográficas. Refiro-me ao chiripa primitivo semelhante a um saiote, portanto curto. Feito de fazenda, era usado por cima da calça ou da ceroula comprida. Não ultrapassava a altura do joelho, onde podia terminar ou não com pequenas franjas do próprio tecido. É passado ao redor da cintura, sendo que se trespassa lateralmente no lado correspondente à parte externa da perna esquerda, trespasse este que se faz da direita para a esquerda. Não é aberto na frente como muitos pensam. Alguns chiripas primitivos apresentam, na parte inferior, adornos discretos ao longo de todo contorno da peça. O tecido empregado ia do mais simples algodão ao melhor, dependendo das posses de cada usuário, do momento e da atividade desenvolvida, de quem o usava. No entanto sua cor era lisa e não berrante. Fixava-se à cintura por uma faixa (tipo brasileira) ou pela guaiaca.”

“Nossa apresentação em público vestindo tal chiripa definitivamente deu-se no programa trazido especialmente por Bibi Ferreira em Porto Alegre em 1962, e televisionado em tape para outras regiões brasileiras. O espetáculo chamava-se Brasil 62 e foi levado a efeito no Salão Nobre da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Nessa ocasião, apresentamos danças gauchescas com o Conjunto Folclórico Tropeiros da Tradição, vestido o chiripa primitivo. O nosso aparecimento, bem como do referido conjunto folclórico, com tal chiripa, causou uma série de críticas... dado o desconhecimento visual da peça na época.”

“Este chiripa que através de nossas pesquisas trouxemos à tona a reconstituição e uso, hoje popularizado pelos integrantes dos Centros de Tradição, coincide com o Txiripá que o antropólogo brasileiro Egon Schaden se refere em sua importante obra Aspectos Fundamentais da Cultura Guarani(...)”

“O xiripá (Txiripá) indígena ou primitivo, nada tem que ver com aquela outra peça de igual nome de formato retangular, comprimento médio de um metro e meio, passada entre as pernas, por sobre as ceroulas compridas (franjadas ou não) e que se fixa a cintura pela guaiaca ou a faixa. Seu aparecimento é bastante anterior.”

“Foi conhecido também na região cisplatina da Colônia do Sacramento onde davam-lhe o nome de a la oriental ou morteiro.”

“O outro chiripá (que lhe deram o afado de farroupilha) acreditamos ser de nítida influência da região da fronteira castelhana.”

“Romangueiro Corrêa (1892) ao dicionarizar chiripá, o descreve como “vestimenta usada pelos peões de estância ou camponeses, que consta de uma peça quadrilonga de fazenda (metro e meio) a qual, passando por entre as pernas e apertada a cintura em suas extremidades por uma cinta de couro ou por uns tirados. Para fazer o chiripá pode-se empregar e usa-se geralmente, um poncho de pala.”

“Os informantes que gravamos, e aqueles que vestiram chiripa fronteiriço, nos afirmam que, embora passasse por entre as pernas, seu comprimento não era curto como os que se tem visto, mostrado por certos gaúchos de CTG. Sua característica é em traços gerais de uma fralda grande, tendo seu trespasse lateral da frente para traz.”

“Eram confeccionadas com um tecido de boa caída e geralmente de uma só tonalidade. Listras, com barras na borda do comprimento maior, eram de tecido, segundo alguns, de apala, como chamam na Argentina.”


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Fonte: portal Estância Virtual

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