Chico do Porrete: uma dança dos Birivas!
As Danças Biriva começaram a ser pesquisadas a partir de estudos iniciados na década de 50. Porém, a primeira apresentação artística dessas danças folclóricas no Rio Grande do Sul só ocorreu em dezembro de 1998, na cidade de Antônio Prado. Paixão Côrtes, como coordenador do Grupo de Danças do CTG Pampa do Rio Grande, de Caxias do Sul, realizou no ano de 2000 o primeiro espetáculo de Danças Biriva. E em maio de 2001, essa apresentação foi a principal atração nas comemorações do 120. aniversário da cidade de Lagoa Vermelha. Nesse mesmo ano, no mês de novembro, o Congresso da CBTG-Confederação Brasileira da Tradição Gaúcha aprovou as danças dos tropeiros, classificando-as na modalidade Danças Biriva. A partir de então a temática das danças tropeiristas passou a ser reconhecida nacionalmente no meio tradicionalista gaúcho. As danças do Fandango, Sapateado, Chico do Porrete, Chula e Danças dos Facões são hoje preservadas graças ao perseverante trabalho de pesquisa do folclorista Paixão Côrtes. Chico do Porrete, por exemplo, por ser uma dança dos tropeiros só é dançada por peões. Com movimentos de passar o bastão por entre as pernas, por uma mão e outra, e sapateios, a dança demonstra e representa a habilidade e o vigor físico dos dançarinos. Como as demais danças do ciclo antigo do Tropeirismo, Chico do Porrete foi dançada pelos Birivas, entre estes os habitantes da região serrana do Rio Grande do Sul. Os tropeiros de mulas, que interligavam o Rio Grande às áreas rurais do centro do país, as dançavam nos seus acampamentos e nos momentos de diversão e festa. Esta modalidade de Danças Biriva foi pesquisada em São Francisco de Paula-RS, na Encosta da Serra do Mar e nos demais rincões por onde as comitivas de tropas de mula passaram, a partir do ano de 1961. No livro “Tropeirismo Biriva”, publicado por ocasião das comemorações dos 150 anos de Vacaria, Paixão Côrtes relata toda a influência exercida pelos tropeiros de São Paulo na formação cultural da Região Serrana do Rio Grande do Sul. Assim, diante da influência exercida pelos tropeiros na Região da Serra Gaúcha, seja nas danças como nos usos e costumes, as Danças Biriva devem ser reconhecidas e valorizadas no âmbito do Tradicionalismo, por constituírem-se parte integrante da Cultura do Povo Gaúcho!
Fonte: www.bombachalarga.com.br
|
sábado, 31 de dezembro de 2016
AS DANÇAS BIRIVA E O TRADICIONALISMO!
PARA SABER O QUE É CHASQUIS
Os Incas chamavam chasquis aos correios que tinham postos pelos caminhos, para levar com rapidez os mandatos do Rei e os avisos que tivessem importância, perto ou longe em seus reinos e províncias. Para isto tinham, a cada quarto de léguas (hum mil e quinhentos metros), quatro ou seis índios moços e ligeiros, que ficavam em duas cabanas para defender-se das inclemências do céu. Levavam os recados de uma cabana para os da outra: um olhava para um lado do caminho e o outro para o outro, para descobrir os mensageiros antes que chegassem até eles e os vissem para transmitir o recado a fim de não perderem tempo algum. As cabanas eram no alto e de maneira que se vissem umas às outras. As cabanas ficavam a um quarto de légua, porque diziam ser a distância que um índio poderia correr, ligeiro e atentamente, sem cansar-se.
Chamavam estes correios de chasquis, que quer dizer trocar, andar e tomar, que é o mesmo, porque trocavam, davam e tomavam de um para outro, e para mais um outro, os recados que levavam. O recado ou mensagem que os chasquis levavam era de palavra, porque os índios do Peru não sabiam escrever.
As palavras eram poucas e muito simples e correntes para que não se trocassem e, por serem muitas, não fossem esquecidas. Levavam outros recados, não de palavras, mas de fios e nós que, colocados em determinada ordem, os governantes se entendiam para o que haviam de fazer. Os nós e as cores dos fios significavam o número de pessoas, armas, roupas ou qualquer outra coisa que se houvesse de fazer, enviar ou aprisionar. Ainda havia outras maneiras de dar avisos. Durante o dia pela fumaça e à noite com labaredas. Os chasquis sempre percebiam o fogo e a fumaça e levavam sempre, de noite e de dia, revezando-se para perceberem qualquer aviso. Este aviso por fogo era somente dado quando havia alguma rebelião no reino. Este era o ofício dos chasquis e os recados que levavam. O gaúcho, tipo forjado de diversas etnias, aculturando hábitos e costumes de todas as raças que lhes emprestaram formação, adicionou este termo com as mesmas funções.
Fonte: José Aldomar de Castro, com base na Revista Veja, Comentários Reaales de los Incas–Peru)
FONTE:E-CHASQUE N.º 19 DO DPTO. DE COMUNICADORES DO MTG/RS
|
Bagaceirismo nas letras não é tradição dos Gaúchos do RGS
Baile Gaúcho com chapéu na cabeça já é uma clara demonstração de que o surungo não é de respeito! Tradição Gaúcha Sul-brasileira não pode jamais ser confundida com maus costumes do passado, com vícios praticados em ambientes não familiares, pois estes não são representativos do acervo cultural-moral dos gaúchos sérios, respeitadores e recatados do interior sul-brasileiro. Bagaceirices não integram usos e costumes rurais do povo interiorano do Rio Grande do Sul, perpetuados pela prática reiterada, contínua, repassada de pais para filhos ao longo do tempo. Portanto, a ocorrência da execução de músicas relacionadas ao ambiente das tascas, dos surungos de chinaredo, dos bailes de baixa classe de antanho, no interior dos CTGs e nos Eventos do Tradicionalismo, é uma grande incoerência cultural-tradicionalista-gaúcha. Reproduzir procedimentos que não detém a postura moral pertinente ao modo de vida da maioria dos gaúchos campeiros do Sul do Brasil pode ser objeto de inspiração e de registro histórico para qualquer compositor, mas não passa de um jeito de vida restrito a alguns vulgachos, cujo proceder não têm nenhum valor para a autêntica Tradição Gaúcha dos Sul-brasileiros. Pelo contrário! Permitir-se que músicas com letras impróprias, ofensivas aos bons costumes tradicionais dos gaúchos e gaúchas do Rio Grande, sejam executadas no interior dos Centros de Tradições Gaúchas ou em qualquer outro recinto ou evento do Tradicionalismo organizado é um desserviço aos fins deste e da sua Carta de Princípios, sua Filosofia de Atuação; é ato que vai de encontro aos objetivos de todas as Sociedades Culturais Tradicionalistas Gaúchas Brasileiras, voltadas para o culto, a preservação, a defesa e a adequada divulgação do patrimônio cultural-moral-tradicional do Povo Gaúcho Sul-brasileiro. Com razão Paulo Guimarães, ao levantar a questão no seu Galpão Virtual Chasque Pampeano e expor a abalizada opinião do professor José Aldomar de Castro, a respeito do real sentido da expressão Baile de Cola Atada. O conteúdo de letras musicais ou as danças que exploram costumes como esse, que jamais foi estendido a todo o povo do Rio Grande, não devem ser apontadas como parte da Tradição Gaúcha a crianças, jovens e famílias em salutar convivência dentro dos Palanques da Cultura Regional Gaúcha Brasileira: as Entidades Tradicionalistas Gaúchas. Deverão ser evitadas no ambiente tradicionalista, por exemplo, as composições : 1-Pra Bailar de Cola Atada, de Anomar Danúbio Vieira e Juliano Gomes, gravada pela dupla César Oliveira e Rogério Melo, aonde fica explícito que o peão desejava levar logo a pinguancha para o ninho dele; 2- Baile de Cola Atada, de Pedro Ortaça, aonde o peão sente o calor da gruta da raparigaça; 3-Baile nas Cabritas, de Vaine Darde e Talo Pereira, defendida por Bagre Fagundes na XIX Califórnia da Canção Nativa do Rio Grande do Sul, aonde, lá pela tantas, o chinaredo ergue os panos; 4-Dentro do Bailão, gravada pela Banda Tchê Barbaridade, onde o baile gaúcho seria o lugar para se maxixar; 5-Minha Nega, do mesmo grupo, aonde a prenda rebola e o peão rebola também; ou, ainda, 6-Vício Campeiro, gravada pelo Grupo Galpão e outros, onde o peão é coroado o Rei do Meretrício. Naturalmente que as práticas viciosas de alguns peões de fazenda de antigamente e algumas das indecências exploradas pela Tchê Music de hoje podem até ser consideradas como históricas ou nativistas, uma vez que são passagens vinculadas ao território do Estado, mas nunca serão partes integrantes da Tradição Gaúcha Brasileira (transmissão às novas gerações dos usos e costumes tradicionais de Povo Gaúcho do Rio Grande do Sul, feita de pai para filho, pelo tempo). E não será um ritmo bailável ou tradicional que fará com que as composições artísticas desse naipe venham a se transformar em Tradição Gaúcha do Rio Grande. Dessa forma, não devem tais conteúdos musicais fazer parte do ambiente familiar dos CTGs e nem o Tradicionalismo pode abarcar danças praticadas, no passado, por percantas e peões em recintos de má fama, em xixos nada familiares e com práticas nada compatíveis com a seriedade e a dignidade da população gaúcha residente na campanha do Rio Grande do Sul. Assim, executar músicas como Baile de Cola Atada, e outras do tipo, no interior de um CTG é uma enorme incoerência tradicionalista praticada por aqueles que têm o dever institucional de promover, no meio do nosso povo, uma retomada de consciência dos valores morais do gaúcho e evitar atitudes pessoais ou coletivas que deslustrem e venham em detrimento dos princípios da formação moral do gaúcho (itens III e XIV da Carta de Princípios do MTG). Dessa forma, letras que falam de fivela lustrada, dança apertada, com poncho, esporas, chapéu na cabeça, em bailes de cola atada e outros ambientes não representativos dos bailes familiares de fazenda dos Gaúchos Campeiros Sul-brasileiros não devem ser executadas no Tradicionalismo Gaúcho organizado, pois práticas bagaceiras como essas não podem ser confundidas com a verdadeira Tradição da imensa maioria do Povo Gaúcho Campeiro do Estado do Rio Grande do Sul! FONTE: BOMBACHA LARGA NOTA DO EDITOR: PEDIMOS A AJUDA DE QUEM QUEIRA NOS MANDAR OUTROS NOMES DE LETRAS E SEUS AUTORES COM ALGUMAS REFERÊNCIAS AO BAGACEIRISMO. |
OS IRMÃOS RIBEIRO DA LUZ
Costureiras Gaúchas
Uma versão de como surgiu a expressoo Tchê!
Colaboração Domingos Pedroso Machado
PARA RELEMBRAR E PASSAR PARA QUEM NÃO SABE
|
El Chamuyo o primeiro tango foi gravado no Brasil
O QUE BAILE DE COLA ATADA?
FONTE:http://www.projetopassofundo.com.br/principal.php?modulo=texto&con_codigo=12050&tipo=texto
Faz muitos anos, que não vou mais a baile e/ou fandango de CTG, pois já me dizem de cara, que alem dum conjunto *macanudo que lá vai tocar, o dito, será de "cola atada". Quando eu era solteiro, até que poderia topar essa parada, pois era só me *pilchar, de bota e lenço no pescoço, e me ir pro fandango, mas, o brabo, seria me apresentar nesses trajes, literalmente pelado, no meio dos peões e prendas, e sujeito a voltar *pitoco, depois duma *camaçada de laço. Pra quem é obrigado a usar termos gauchescos do quilate desse disparate, sugiro, não, vou transcrever, o que está escrito na página 157, do livro Danças e andanças da tradição gaúcha, de Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, Editora Garatuja, 1975 - Porto Alegre, página que inclusive, justifica porque denominei o Galpão Bragado do Rodeio Internacional, assim definindo o tal "Baile de Cola Atada": Não sabemos de outra região onde o erotismo tenha se manifestado com as características seguintes: no clímax da farra, nos bordéis da região fronteiriça, em princípios do século, as prostitutas erguiam a parte traseira de suas longas saias, e davam um nó acima da cintura, para animar o "bochincho". Os homens, por sua vez, atavam a camisa às costas. Como, freqüentemente, essas mulheres não usavam "roupa de baixo", pode-se imaginar o grotesco da manifestação de sensualidade cabocla. Os homens, por sua vez, dançavam apenas com a camisa atada, e de...botas! Na denominação, há analogia com os cavalos a que se dá um nó na cauda para a participação de festas. |
A história do Tango
Via Prosa Galponeira - ITALO
Conhecido como festa e dança negra da América . Assim começou o discreto comdoble , da payada e da milonga surge o Tango .termo africano que significa "área fechada" ou do Nigeriano "bailar ao som de tambor". Acredita -se que o primeiro compositor de tango foi Juan Perez com as músicas : Dame la lata , El tero e Andárte a la recoleta . Origen musical :Habanera, cambomble, milonga , flamenco ,zarzuela , polca, valsa , payada. Instrumentos típicos :Bandoneon , guitarras ,piano e violín .As primeiras melodías vinieron da flauta ,violín e da guitarra ,com o tempo sai a flauta e entra o Bandoneon . O tango nasce no fim do século XIX provenientes do subúrbio ,associado à dança de bordel ,rancheiro e boliches .No princípio era dançado só entre homens, depois assumindo a sensualidade feminina na dança pelas mulheres .Eram uma dança proibida de se escutar pela igreja e pela polícia devido a letra das músicas serem obscenas o que demonstrava pouca educação. Por esta razão os espetáculo aconteciam as escondidas . Sua repercusión mundial venho em 1910 em um teatro em Paris ,a partir daí deixa o subúrbio e entra de vez na cultura popular platina . É festejada no dia 11 de dezembro em homenagem a dois grandes nomes do tango que nasceram nesta data Carlos Gardel (11/12/1890) e Julio de Caro (11/12/1899). Fonte: blog La Pampa Gaucha |
CHURRASCO NO COURO
Via Blog do Léo Ribeiro
José Silveira é um dos poucos hermanos que ainda assam o churrasco no couro Como hoje é domingo, dia em que o bom gaúcho não passa sem um assado, vamos falar um pouco sobre gastronomia, mais especificamente sobre o Churrasco no Couro. O churrasco no couro é o mais raro e tradicional de todos assados. Apenas um apanhado de pessoas ainda mantém esta tradição centenária viva. Nosso hermano José Silveira faz todo o processo de abate, limpeza e cozimento do gado sozinho. O churrasco no couro, ou asado en el cuero, em espanhol, é possivelmente o mais tradicional e antigo tipo de churrasco do gaúcho sul-americano. Após os conflitos entre europeus e indígenas no pampa, um grande número de cabeças de gado foram deixadas soltas a pastar pelas vastas planícies. As vacarias surgiram e o gado se tornou importante fonte de alimento para o gaúcho. Silveira aperfeiçoou a técnica ao adicionar duas grelhas, uma sob e outra sobre a vaca. O gaúcho é uma mistura de europeus, negros e indígenas, de acordo com Dr. José Fachel, da Universidade Federal de Pelotas. Com a dizimação de muitas tribos, estes gaúchos se tornaram nômades, foras-da-lei. As vacas espalhadas por tudo era um alvo fácil e excelente fonte de proteínas. Uma lenda urbana conta que o Rio Grande do Sul aguentou por tanto tempo as investidas do Império Brasileiro durante a Guerra dos Farrapos por que conseguiam sobreviver com uma dieta feita quase 100% de carne enquanto os soldados imperialistas tinha que carregar pesados mantimentos. O churrasco no couro consiste em assar a vaca inteira utilizando o próprio couro do animal como meio de cozimento. Todos os fluidos, como gordura derretida, sangue e água são retidos pelo couro e fervem, deixando a carne bem macia e com um sabor característico. O assador uruguaio José Silveira diz que, de acordo com uma lenda, o índio, muito matreiro na época, estava sempre na disparada, portanto assava a vaca no couro para que, se estivesse em perigo, enrolava o animal na própria pele e a levava no cavalo. Hoje este tipo de assado é uma arte que está morrendo. Existem muitas razões para tal. Silveira é provavelmente uma das últimas pessoas a manter a tradição viva. A razão mais óbvia é a dificuldade de fazer o serviço. Silveira faz tudo sozinho. Ele escolhe o animal de acordo com o número de pessoas a serem servidas e também pela qualidade de vida do animal, fato muito importante e determinante no sabor da carne. Outro problema são as leis sanitárias. - No Brasil é muito difícil cozinhar uma vaca desta forma, diz Silveira. Primeiro por causa da proibição das armas de fogo, e segundo porque a não ser que a vaca seja cozida no local do abate, não dá para assar. Não é possível simplesmente colocar a vaca aberta na traseira de uma caminhonete e levá-la para qualquer lugar, ele conta. No Uruguai as leis são mais brandas, então é lá que ele mais trabalha, normalmente perto da fronteira com o Brasil, para os brasileiros também participarem. |
Saladeiro São Miguel - Uma Charqueada Passo Fundense
Em 1914 a firma J.J. Magalhães & Cia. iniciou as atividades saladeris em Passo Fundo, tendo como local escolhido para a sua implantação a região conhecida como Umbu, próximo a Pulador. Estando a cidade de Passo Fundo geograficamente situada na região do Planalto Médio e no interior do Estado, ou seja, sem litoral e observando que o modo tradicional e mais utilizado de escoamento da produção na época era o marítimo, seja pelos gastos com os fretes ou pela dificuldades do transporte rodoviário ou a pé, que emagrecia o gado e que era moroso, era preciso buscar outra forma de escoar a produção da charqueada passo-fundense. Assim, para solucionar este problema o Saladeiro de São Miguel foi estabelecido às margens da linha da Viação Férrea do Rio Grande do Sul, isso facilitou a distribuição de seus produtos para o seu mercado interno e consumidor do centro do país. Ainda não se pode esquecer de outro fator importante para a constituição de uma charqueada interiorana e fora do eixo principal - no caso, fronteiriço e litorâneo no Estado: a grande quantidade de gado aqui existente, aproximadamente 65.000 cabeças. Mo que diz respeito ao Saladeiro de São Miguel, a sua produção na fase inicial foi de aproximadamente 10 mil cabeças de gado abatidas anualmente e exportadas para os principais centros como Bahia, Rio de Janeiro e Pernambuco. O Saladeiro comercializava em média 850 mil quilos de charque por safra, uma soma nada inexpressiva para uma empresa, que no início, era basicamente artesanal, não era provida de luz elétrica, nem água encanada e que dependia das linhas do trem para escoar sua produção. Anos mais tarde, houve a ampliação da empresa, com a adesão na sociedade do pecuarista Jonathas Waihrich e do investidor Domingos Lopes, época em que a charqueada passou a ser denominada como Magalhães, Lopes & Waihrich. No ano de 1927, Passo Fundo estava em 15º lugar no Estado em quantidade de bovinos com um rebanho de aproximadamente 196.500 cabeças de gado, contudo, o Saladeiro de São Miguel também sofria com a crise, pois a mesma trouxe a diminuição da procura do produto. Ocorre que o charque estava se acumulando, e parado em seu estabelecimento, onde as pilhas só aumentavam. Esse era o primeiro indício de prejuízos na indústria charqueadora e consequentemente do Saladeiro. Mas o desfecho para a charqueada passo-fundense seria outro. Em meados de dezembro de 1931, à meia noite, após a passagem do trem de passageiros o Saladeiro de São Miguel incendeia e as chamas o consomem por completo. Neste fatídico episódio de destruição são perdidos maquinários, casas, equipamentos e todo o depósito de charque que possuía em seu estabelecimento. Segundo relatos, o fogo teria iniciado com as fagulhas do trem de passageiros que por ali passara. Assim, o entreposto comercial saladeiril de São Miguel decreta a sua falência no ano de 1932, e põe a leilão o que restou de sua estrutura, como terras e imóveis, pois era necessário pagar o sinistro para que os seus proprietários recebessem o valor da apólice de seguros que haviam feito há aproximadamente um ano antes do acontecido. Quanto à vila que existia ao redor do Saladeiro e ao entreposto comercial, composto por depósito de madeiras, moradias, armazéns que ali existiam, foram gradativamente se extinguindo como as chamas que consumiram com a empresa comercial ou indústria saladeiril que antes se situava naquele lugar. Daniel Ricardo Damiani Acadêmico do Curso de História Imagem: Funcionários do Saladeiro São Miguel Acervo particular João Carlos Wahrich Neto Fonte: Acervo AHR Arquivo Histórico Regional - UPF COLABORAÇÃO HILTON ARALDI - PASSO FUNDO |
Museus Riograndenses
Via Blog do Léo Ribeiro
MUSEU JÚLIO DE CASTILHOS O prédio principal do Museu Júlio de Castilhos, de número 1231, na rua Duque de Caxias, em Porto Alegre, é um destacado modelo de residência urbana aristocrática do século XIX. Foi construído em 1887, com projeto do coronel de engenheiros Catão Augusto dos Santos Roxo, herói da Guerra do Paraguai, para ser sua residência. Em 1897 foi aberta uma subscrição entre os membros do Partido Republicano Rio-Grandense (PRR) para adquirir o palacete para morada de seu presidente, Júlio de Castilhos, ex-presidente do estado, que passou a ocupá-lo, com sua esposa Honorina e seus seis filhos, entre 1898 e 1903, data de sua morte. Após o falecimento da viúva, em 1905, o prédio foi comprado pelo governo do estado, e para lá foi transferido o acervo do museu. Em sua memória foi mantida uma sala, reconstituindo o antigo dormitório do casal e seu gabinete. Em 1909 a casa foi reformada para adaptá-la às atividades museais. Em 1925 foram construídas duas salas no pavimento superior, e entre 1968 a 1973 realizaram-se obras no telhado, forro, assoalho e nas redes hidráulica e elétrica, sendo reaberto a tempo de comemorar os seus 70 anos. Em 1980 o governo adquiriu a casa vizinha, número 1205, construída entre 1917 e 1918, a fim de que os espaços expositivos do museu pudessem ser ampliados. As reformas de adaptação terminaram em 1996. A casa anexa foi moradia de outro ex-governante do estado, Borges de Medeiros, seguidor de Julio de Castilhos. No ano seguinte o casarão principal passou por nova restauração no telhado e no forro. Ambos os prédios foram tombados pelo Patrimônio Estadual, em 1982. Outras obras de manutenção da sua estrutura, revitalização dos seus espaços internos e reorganização da museografia foram executadas em 2007. Houve tentativas anteriores de criar um museu no Rio Grande do Sul. Um deles funcionou junto ao Instituto Histórico e Geográfico da Província de São Pedro (IHGSP), fundado em 1860, extinto em 1863, e que criou um museu em 1862. Além disso um decreto estadual de 17 de dezembro de 1885 previa a criação de um museu estadual, o que aparentemente não ocorreu. O Museu do Estado foi finalmente criado em 30 de janeiro de 1903, por decreto de Borges de Medeiros, então presidente do estado, como museu antropológico, artístico e histórico, para abrigar objetos que vinham sendo coletados desde 1901 e estavam depositados nos pavilhões construídos para a 1ª Exposição Agropecuária e Industrial do estado, que aconteceu no atual Parque da Redenção. Seu primeiro diretor foi Francisco Rodolfo Simch, dirigindo até 1925, com um intervalo entre 1919 e 1922, quando assumiu interinamente Hugo Debiasi. Em 1905 o museu foi transferido para a casa de Júlio de Castilhos, e em 1907 renomeado Museu Júlio de Castilhos, quando passa a servir funções celebrativas ao político. Constituído de quatro seções: zoologia e botânica; mineralogia, geologia e paleontologia; antropologia e etnografia; e a seção de ciências, artes e documentos históricos. O museu permanecia a maior parte do tempo com suas portas fechadas ao público, recebendo somente pesquisadores, fornecendo pareceres técnicos, principalmente à Secretaria de Obras do Estado, ao qual era vinculado. Até a década de 1920 pode ser enquadrado na categoria de Museu de História Natural. Em 1925 foi desligado do Serviço Geológico e Mineralógico da Secretaria de Obras, passando à tutela da Secretaria do Interior. Sob a direção de Dante de Laytano, em 1954, os objetivos do museu foram redefinidos, passando a museu histórico, priorizando o folclore e o estudo das tradições. Assim, desvincula-se do Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul, e desmembra suas coleções de história natural e arte moderna, dando origem ao Museu de Ciências Naturais e ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul, criados no mesmo ano. Em 2004 iniciou um projeto de informatização do catálogo de sua coleção, facilitando o acesso das informações a pesquisadores, público interessado e à própria equipe da casa. Em 2005 a instituição recebeu verbas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a instalação de um completo sistema de segurança interno, com câmeras de vídeo, monitores e sensores anti-furto. O acervo do museu é voltado para a preservação e divulgação de materiais de várias épocas e locais importantes para a história do Rio Grande do Sul, democratizando o conhecimento e possibilitando a formação de visões críticas sobre a história local. As mais de dez mil peças, tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), se agrupam em uma ampla variedade de categorias, como iconografia, armaria, documentos, filatelia, heráldica, elementos das culturas indígenas, indumentária, instrumentos musicais, instrumentos de trabalho, máquinas, medalhas, peças de arte missioneira, mobiliário, numismática, objetos decorativos, objetos de uso pessoal, objetos ligados à Revolução Farroupilha e à Guerra do Paraguai, sigilografia, tesserologia, utensílios domésticos e viaturas. Reconstituição do antigo dormitório de Júlio de Castilhos |
Diferença entre farroupilhas e farrapos
Via Blog do Léo Ribeiro
...FARROUPILHA E FARRAPO? Revolução Farroupilha: Começa em 20 de setembro de 1835 Muitas pessoas acham que Farroupilhas e Farrapos são sinônimos, criados ao acaso ou por lados opostos da revolta. A verdade é que existem muitas diferenças entre Farroupilhas e Farrapos, em suma são dois eventos completamente diferentes.... Os Farroupilhas: A corte do Império brasileiro denominava Farroupilha todo e qualquer revoltoso que se levantasse contra o Império. Sendo que existiam Farroupilhas por todo o território brasileiro, como no Maranhão, Pernambuco, Rio de Janeiro, Bahia e outras localidades. Logo os Farroupilhas Riograndenses atuaram de 20 de Setembro de 1835 á 10 de Setembro de 1836, (momento que surgem os Farrapos). Esse movimento teve por objetivo lutar contra os desmandos da corte, a alta aplicação de impostos na então Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, tornando o charque Gaúcho mais caro que o charque dos concorrentes platinos, o descaso e abandono do povo, e principalmente reivindicar um presidente de província que defendesse os interesses locais. Tivemos Osório que foi Farroupilha mas não Farrapo, tendo iniciado a revolta como Farroupilha ao lado de Bento Gonçalves, mas não aprovando a separação no período Farrapo lutou pelos imperiais. Os Farrapos: No dia 10 de Setembro de 1836 o então Coronel Antônio de Souza Netto bateu as forças imperiais comandadas por Silva Tavares. A vitória foi tão impactante que no dia seguinte culminou na Proclamação da República, tendo como título "República Riograndense". Finda-se então o período Farroupilha e inicia-se o movimento dos Farrapos. Movimento este que tem caráter separatista, que visa a formação de um estado independente do Império brasileiro, autônomo e "desgarrado" do poder central. A partir desse momento deixa-se de ser uma revolta por melhorias e toma um teor de luta por defesa de fronteiras e território. Formando uma aliança com Rivera, então presidente da Banda Oriental (Uruguai), os Farrapos conseguem uma forma de escoar seus produtos pelo Rio da Prata, já que os acessos marítimos estavam fechados pelo inimigo. Os Farrapos tiveram uma constituição, bandeira e hinos próprios, caracterizando uma nação completamente alheia ao domínio brasileiro. Durante quase nove anos sustentaram essa República, com inúmeras batalhas contra os Legalistas brasileiros. No final de Fevereiro de 1845 é cada vez mais inevitável o fim a guerra, já que os Farrapos não tem mais condições de logística, nem de homens suficientes para manter os combates. No dia 01 de Março de 1845 é finalmente assinado o Tratado de Ponche Verde. Esse tratado incluía as seguintes cláusulas: 1ª - O indivíduo que for pelos republicanos indicado Presidente da Província, é aprovado pelo Governo Imperial e passará a presidir a Província; 2ª - A dívida nacional é paga pelo governo imperial, devendo apresentar-se ao Barão, a relação dos crédidos para ele entregar à pessoa, ou pessoas para isto nomeadas, a importância a que montar dita dívida; 3ª - Os oficiais Republicanos que por nosso Comandante em Chefe, forem indicados, passarão a pertencer ao Exército do Brasil no mesmo posto, e os que quiserem suas demissões ou não quiserem pertencer ao Exército, não serão obrigados a servir, tanto em Guarda Nacional como em primeira linha; 4ª - São livres, e como tais reconhecidos, todos os cativos que serviram a República; 5ª - As causas civis não tendo nulidades escandalosas, são válidas, bem como todas as licenças, e dispensas Eclesiásticas; 6ª - É garantida a segurança individual e de propriedade, em toda sua plenitude; 7ª - Tendo o Barão de organizar um Corpo de Linha, receberá para ele todos os oficiais republicanos sempre que assim voluntariamente queiram; 8ª - Nossos prisioneiros de guerra serão logo soltos e aqueles que estão fora da Província serão reconduzidos à ela; 9ª - Não são reconhecidos em suas patentes os nossos Generais, porém gozam das imunidades dos demais cidadãos designados; 10ª - O Governo Imperial vai tratar definitivamente da Linha Divisória com o estado Oriental; 11ª - Os soldados da república pelos respectivos comandantes relacionados ficam isentos de recrutamento de primeira linha; 12ª - Oficiais e soldados que pertenceram ao Exército Imperial e se apresentaram ao nosso serviço serão plenamente garantidos como os demais Republicanos. Muitos afirmam ter sido uma paz honrosa, porém eu não vejo nada de honroso nisso, considerando que quase nenhuma das cláusulas foi respeitada. Alguns dos negros que sobraram foram feitos novamente escravos e enviados para corte do Rio de Janeiro. Para o presidente da província foi eleito Luis Alves de Lima e Silva (Duque de Caxias). Muitos dos Farrapos foram perseguidos e mortos. E nesse tratado sequer é discutido a dissolução da República, o que me diz que por direito ela ainda é legal, porém, o Império jamais a reconheceu. Caxias deu fim a guerra chegando ao fim também o ciclo dos Farrapos, que com muito amor e honra lutaram por um ideal que havia iniciado a quase nove anos lá nos Campos do Seival. Por: Jéferson Pimentel Guerra dos Farrapos: Começa em 11 de setembro de 1836 |
As leis do campo" por Severino Rudes Moreira
Via Prosa Galponeira - ITALO
Cavalos O cavalo no campo se vira de costas para o lado da chuva com vento, para que a água não bata direto na cara e os pingos não atinjam seus olhos. O cavalo bate a pata na água quando vai beber e se frouxar a rédea ele deita. Diziam os antigos que faz isso porque enxerga a própria a imagem refletida e entende ser outro animal. Essa é a forma de escorraçar o outro. Um cavalo deitado ao levantar ergue primeiro as (mãos) parte da frente enquanto que os vacuns erguem (os quartos), parte de trás. Os cavalos antes de coicear ou morder geralmente murcham as orelhas. Numa carreira de campo, quando o cavalo "rebolear" o rabo, é por que está cansado e geralmente perde a carreira. Para pegar cavalo matreiro e refugador de mangueira, deixavam um laço amarrado num moirão próximo a um canto do alambrado e outra ponta estendida no pasto. Repontavam os animais até aquele canto e depois pegavam a ponta solta do laço improvisando uma mangueira. Os cavalos tem ótima visão e raramente se perdem por mais escura que a noite seja chegam ao destino. Portanto, se o campeiro não enxergar o caminho afrouxe a rédea que se o cavalo é bem manso ele o conduzirá. Por ter uma visão aguçada, sempre que um cavalo sonar a venta e se negar em uma noite escura, o cavaleiro deve ficar alerta, pois provavelmente exista uma situação perigosa pressentida pelo animal. Os cavalos também têm uma sensibilidade muito grande para conhecer os caminhos onde cruzam, se afrouxar as rédeas eles escolhem o melhor caminho, evitando inclusive as pedras que machucam os cascos. O cavalo sabe quando quem monta é bom cavaleiro, ou se é medroso ou maturrengo. É com o maturrengo que fica mais matreiro ou tenta se governar. Cavalo criado guacho geralmente dá coiceiro, manoteador e mordedor. Para o cavalo com dor de urina davam chá de "erva-de-bicho" e como as garrafas eram de vidro, para que o animal não quebrasse com os dentes, passavam o cabresto num galho alto, puxando o focinho para cima e colocavam o líquido pela narina. Para curar basteira em cavalos colocavam azeite de mocotó misturado com creolina ou óleo queimado. Para combater vermes e "bicho do coalho" antigamente colocavam pela narina do cavalo uma garrafa de um pó verde chamado "Fenotiasina" misturado com água. O campeiro sempre evitava desencilhar o cavalo à noite quando tinha geada e quando precisava fazê-lo desencilhava no galpão e deixava refrescar o lombo para depois soltar, assim evitando que o animal se rebolcasse na geada com o lombo suado. do Livro Os Chás e a fé de Severino Rudes Moreira Martins Livreiro Editora Fonte: blog do Rogério Bastos |
A Lenda da Erva-Mate
Via Prosa Galponeira - ITALO
Há muitos e muitos anos, uma grande tribo guarani, por se nômade precisavam encontrar um outro lugar para morar onde a caça fosse farta e a terra fértil. Lentamente os índios foram deixando a aldeia onde haviam vivido tantos anos. O povo migrou, mas sem que ninguém soubesse um velho indio que dormira tapado por couros ao acordar se viu só, sem seus descendentes para cuida-lo. É obrigado a levantar-se e agarrando-se as árvores se põem a caminhar, nisto surge uma bela e jovem índia que se coloca atrás dele. Ela chamava-se Yari e era sua filha mais nova, que não teve coragem de abandonar seu velho pai, que sozinho iria morrer. Numa triste tarde de inverno, o velho entretido colhendo algumas frutas, assustou-se quando viu mexer-se uma folhagem próxima. Pensou que fosse uma onça, mas eis que surge um homem branco muito forte, de olhos cor do céu e vestido com roupas coloridas. Aproximou-se e disse-lhe: - Venho de muito longe e há dias ando sem parar. Estou cansado e queria repousas um pouco. Poderia arranjar-me uma rede e algo para comer? - Sim, respondeu o velho índio, mesmo sabendo que sua comida era muito escassa. Quando chegaram à sua cabana, ele apresentou ao visitante a sua filha. Yari acendeu o fogo e preparou algo para o moço comer. O estranho comeu com muito apetite. O velho e a filha emprestaram a cabana e foram dormir em uma das outras abandonadas. Ao amanhecer o velho índio encontrou o homem branco pediu que ele descansasse um pouco mais. Porem, respondeu-lhe que tinha percebido a necessidade dos dois, ninguém o tinha ajudado e acolhido tanto então, embrenhou-se em direção à floresta. Depois de algum tempo retornou com várias caças. - Vocês merecem muito mais! explicou o homem me darem o que não tinham e foram de grande bondade. Tupã está preocupado com a saúde de vocês e por isto me enviou. E em gratidão a tanta bondade lhe concedo um pedido. O pobre velho queria um amigo que lhe fizesse companhia até o findar de seus dias, para que pudesse deixar de ser um fardo para sua doce e jovem filha. O estranho levou-lhe então até uma erva mais estranha ainda dizendo: - Esta é a erva-mate. Plante-a e deixa que ela cresça e faça-a multiplicar-se. Deve arrancar-lhe as folhas, fervê-las e tomar como chá. Suas forças se renovarão e poderá voltar a caçar e fazer o que quiser. Sua filha poderá então retornar a sua tribo. Yari resolveu que de qualquer jeito jamais ficaria para fazer companhia ao pai. Pela sua dedicação e zelo, o enviado do tupã sorriu emocionado e disse: - Por ser tão boa filha, a partir deste momento passará a ser conhecida como Caá-Yari, a deusa protetora dos ervais. Cuidará para que o mate jamais deixe de existir e fará com que os outros o conheçam e bebam a fim de serem fortes e felizes. Logo depois o estranho partiu, mas deixou na cabeça de Yari uma grande dúvida: como poderia ela, vivendo afastada das demais tribos divulgar o uso da tal erva? E o tempo foi passando... Em uma tribo não muito distante dali, os índios estavam contentes com a fartura das caçadas. Organizaram uma grande festa para comemorar, não faltava comida e muita bebida. Mas a bebida demais levou dois jovens índios a começaram a discutir e brigar. Tratava-se de Piraúna e Jaguaretê. No furor da briga Jaguaretê empunha um tacape e bate na cabeça de Piraúna, matando-o. Jaguaretê foi então detido e amarrado ao poste das torturas. Pelas leis da tribo, os parentes do morto deveriam executar o assassino. Trouxeram imediatamente o pai de Piraúna para que ordenasse a execução. Muito consciente que a tragédia só aconteceu por estarem os jovens sob o efeito da bebida, liberou o Jaguaretê, que foi então expulso da tribo e foi buscar sua sorte na floresta e quem sabe nos braços de Anhangá, espírito mau da mata. Conforme caminhava e o efeito do álcool era amenizado, mais se arrependia do mal que fizera. Passadas muitas décadas, alguns índios daquela tribo, aventuravam-se na mata fechada em busca caça que já estava rara no local em que viviam. Entrando no sertão, no meio da floresta, encontraram uma cabana e foram aproximando-se com cuidado, mas mesmo assim foram pressentidos e saiu da cabana um homem muito forte e sorridente. Muito embora seus cabelos fossem totalmente brancos, sua fisionomia era de um jovem e ofereceu-lhes uma bebida desconhecida. Identificou-se então como sendo Jaguaretê, o índio expulso de sua tribo e que a bebida desconhecida era o mate. Contou que quando foi abandonado a sua sorte, muito andou e quando estava apertado de cansaço e remorso, jogou-se ao chão e pediu para morrer. Acordou-se com a visão de uma índia de rara beleza que apiedando-se dele disse-lhe: - Meu nome é Caá-Yari e sou a deusa dos ervais. Tenho pena de você, pois não matou por gosto e agora arrepende-se amargamente pelo que fez. Para suportar seu exílio, eis aqui uma bebida que o deixará forte e lhe esclarecerá as idéias. Levou-o até uma estranha planta e voltou a dizer: - Esta é a erva-mate. Cultive-a e a faça multiplicar. Depois prepare uma infusão com suas folhas e beba o chá. Seu corpo permanecerá forte e sua mente clara por muitos anos. Não deixe de transmitir a quem encontrar o que aprendeu com o mate. - Por tanto, jovens guerreiros, quero que leve alguns pés da erva-mate para a sua tribo e que nunca deixem de transmitir aos outros o que aprenderam. Aqueles índios voltaram e contaram aos outros os que haviam ouvido. O mate foi plantado e multiplicou-se. Outras tribos apreenderam e foi desta forma que seu uso chegou até nós. A Nação Guarani era dividida em inúmeras tribos, dialetos, interesses e os costumes eram muito flexíveis, não havia territórios e sim regiões. Os caciques de quando em quando se reuniam para tratar dos assuntos ligados as regiões, casamentos, caças e negociações de alimentos e paz. O Chimarrão servido em uma cuia, a bomba de bambu era o primeiro gesto de cordialidade, a primeira bebida a ser oferecida, comparado ao cachimbo da paz. O Mate era importante, pois as conversas se desenvolviam dentro da oca, ao pé da fogueira e o chimarrão ao fazer a roda era passado de mão em mão, o braço estendido com a cuia ao ser estendida obrigava os índios a olhar uns nos olhos do outros. Era uma cerimonio obrigatória, um ato de educação e diplomacia, o anfitrião fazia o mate na frente das visitas e bebia ou cuspia o primeiro para provar que não tinha nada ou não estava envenenado. Por este motivo, ao fazer o mate e cevar na frente de seus amigos, mais do que um ato de saudável e de prazer estamos fazendo um ato de entrega, de compromisso em nos dedicarmos ao diálogo e a paz. Foto: Divulgação por Paulo Ricardo Costa Fonte: blog Entre Mates e Guitarra |
Cientistas explicam: quais os benefícios da dança?
Via Prosa Galponeira - ITALO
Foto: Estampa da Tradição "Tchê, então traz benefícios mesmo? E quais são? É só físico? Então não é só gastos que gera che? Quem escreveu sobre isso?" Buenas amigos, como estão? A dança, como todos sabem, é universal. Falamos com maior frequência nas Danças Gaúchas por serem essas que vivenciamos mais. Entramos sempre em um maior número de detalhes quanto as danças executadas nos CTGs. E então, será que este tipo de dança pode trazer mesmo benefícios para os dançarinos? Se tu quer saber no que ela te ajuda, CONTINUA LENDO, que através da obra "DANÇAS FOLCLÓRICAS BRASILEIRAS" de Maria Amália Côrrea Giffoni, do ano de 1955, nós vamos te explicar! "Não vai muito tempo em que os governos dirigiam os problemas educacionais quase que exclusivamente para o lado intelectual, o que constituía uma falha. O aprimoramento físico, intelectual e moral, em conjunto, é o ideal." "A atividade muscular é ao mesmo tempo atividade nervosa (principalmente na dança) pois trabalho muscular beneficia a função do cérebro do sistema nervoso." Bueno, o livro é da década de 50, e nessa introdução já percebemos que a dança era vista como fundamental para o desenvolvimento humano. Não só pelo movimento físicos e sim muito, pelo desenvolvimento intelectual. Para quem ensaia horas e horas sabe do que estou falando. Tem ensaio que se termina mais com a cabeça cansada, do que com o corpo propriamente dito... "Queremos realçar o fato de ser a dança, dentre as atividades físicas, uma das que mais acentuadamente concorre para o aperfeiçoamento total do ser humano porque apresenta: VALOR FÍSICO, VALOR MORAL, VALOR MENTAL, VALOR SOCIAL (...)". VALOR FÍSICO: "É inegável que ela contribui pela sua forma de exercício físico completo para o desenvolvimento físico de quem a pratica, melhorando as funções circulatória, respiratória, digestiva, aperfeiçoando o sistema muscular e nervoso. Tem-se constatado que os dançarinos tem vida longa e conservam-se em forma por maior tempo que os ginastas e atletas e são dotados de resistência física considerável." Che, que tal essa? Nós sabemos bem o que é sair de um ensaio EXAUSTO. Logo, essa exaustão auxilia na forma física e na saúde mental. É claro que muitas pessoas acabam por se machucar, principalmente pela carga horária pesada, e muito também pelo uso de calçados inadequados (botas e sapatilhas). Porém, ensaios em carga moderada, trazem diversos benefícios para a saúde! VALOR MORAL: "(...) encontramos o domínio de si mesmo, a iniciativa, o entusiasmo, a perseverança, o cavalheirismo, a obediência, a bondade, além de contribuir para a formação do caráter. Por sua vez, o espírito de solidariedade e cooperação é exigido, sobretudo na dança em conjunto, por ser ela um trabalho de equipe." Quanta coisa hein? Um grupo só consegue se manter firme e unido através da perseverança e entusiasmo de cada dançarino. Com certeza todos que dançam em um CTG, buscam a melhoria contínua, e isso só é possível através da iniciativa e da cooperação em que o grupo tem entre si, trazendo assim um ganho para todo o conjunto. VALOR MENTAL: "(...) há a atenção, a imaginação, a memória e o raciocínio. (...) Quando a atenção não é normal, a dança pode colaborar na correção da imperfeição. A sua forma agradável prende a atenção, obrigando-a a se enquadrar dentro do exigido e encaminhando-a à normalidade. (...) A dança incentiva a imaginação, dando vazão à imaginação viva da criança e exuberante do adolescente." Então, quem sofreu aprendendo algum movimento novo sabe o quanto é necessário estar atento e concentrado para memorizar e o tornar natural para o seu corpo... Mas não só isso, viver um personagem exige muita imaginação também, para poder assim sentir, e dar vida ao mesmo! Logo, mais um ponto positivo para a dança! VALOR SOCIAL: "Na dança, a disciplina está constantemente presente e fundamenta-se na obediência à técnica, às convenções, ao dirigente, à música e às próprias tradições. Este hábito de obediência a determinadas normas será útil em outras atividades. Menciona ainda MIRA y LOPES, a necessidade de favorecer a vida social da criança para que o desenvolvimento da sociabilidade se realize. A dança em grupo oferece oportunidade ideal para que ela se desenvolva." É através da disciplina exigida por instrutores e coordenadores dentro do CTG, que quando crianças, aprendemos além da socialização, regras básicas para uma boa convivência. Logo, tem-se um grande benefício para o desenvolvimento de quem participa, estimulando a interação e desinibição para além do CTG, levando a ganhos pessoais para a sua vida. Então che para finalizar essa prosa sobre os benefícios da danças, arrematamos com o autor GROSSE: "Enquanto dançam, estão num estado de unificação social completa e o grupo dançando sente e atua como um organismo só". Fonte: portal Estância Virtual |
Simbologia do Lenço Farroupilha
Via Blog do Léo Ribeiro
- As duas colunas do Hércules da mitologia grega significam que o poder e a sabedoria de Deus estão acima do julgamento dos homens.- Nos triângulos do quadrilátero as estrelas flamígeras de cinco pontas, com o vértice voltado para cima significando o retorno do homem material à morada do divino, fundamento da verdadeira religião (do latim religare). - As espadas símbolos da justiça e da inflexibilidade no cumprimento da lei. - Os ramos de acácia, evocação do florescimento das idéias que devem encher de beleza a vida dos homens. E da mesma forma que o caduceu de mercúrio (símbolo da medicina) os canais secretos do corpo humano que devem levar as energias até o Santo Graal "cérebro" para a transmutação do ser humano. - No centro, um símbolo da coluna com suas 33 vértebras simbolizadas nos 33 graus do mestrado. - A trombeta representa a divulgação dos ideais. - Nas periferias do lenço uma cronologia das batalhas Farrapas. - O anjo que toca a trombeta mostra de onde vêm esses ideais. - As nove lanças representam cabalisticamente o numero nove, a descida à nona esfera, o resgate dos valores necessários para o acesso ao Supremo Arquiteto do Universo. - O número 3, o número místico das idades sagradas, está subliminarmente em todo o lenço e representa o Terceiro Logos, as três formas primarias da criação, a Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo. |
Nossos costumes - o mate doce em cuia de porcelana
Via Prosa Galponeira - ITALO
Adoçado com açúcar ou mel, perfumado com canela e jujos (ervas), ou acrescido de leite, o mate das mulheres era um primor de criatividade e uma subversão declarada ao chimarrão (amargo) dos homens. Nem os tradicionais avios eram respeitados, pois a cuia era comumente substituída por canecas de louça. A hora do mate, para as mulheres, era o meio da tarde, quando as lides da casa aliviavam, os filhos estavam na escola ou brincando na rua, e os maridos, trabalhando. Elas se juntavam para conversar, ouvir novelas, fazer trabalhos manuais, trocar receitas e atualizar as fofocas. O mate doce nunca vinha só. As mulheres costumavam sentar em roda de uma mesa onde eram servidas, pelo menos, galletas e rapadura de palha. Cucas, broas, bolos e doces caseiros de várias naturezas eram o orgulho das comadres que, ao chegarem de visita, costumavam obsequiar a dona da casa com "'alguma coisinha boa". "A porcelana ligada à tradição gauchesca tem nas cuias para mate doce, tão ao gosto das mulheres, as peças mais representativas. Assim como muitos objetos de metal dos campeiros e peças de uso pessoal (ponchos, palas), as cuias de porcelana eram produções europeias que vinham destinadas aos mercados consumidores das áreas sul-rio-grandenses, argentina e uruguaia, da mesma forma como acontecia com relação aos tecidos dos mais diversos. Isto ocorria em decorrência da estrutura comercial existente anteriormente, nos países sul-americanos e em razão de ausência do espírito industrial fabril de nossa gente nos primórdios de sua formação sócio-cultural, como já fizemos referência ao longo desta obra. Estas peças, as cuias de porcelana, que hoje ocupam prateleiras de colecionadores e vitrinas de museus, variam de formas e tamanho, embora não excedam a dezessete centímetros de comprimento, com uma capacidade de 80 gramas para erva e com uma boca em forma de três centímetros de diâmetro. As mais singelas eram estreitas (na sua largura) e com uma alça lembrando uma pequena xícara. As mais requintadas apresentavam um pé torneado e um elemento figurativo mitológico como, por exemplo, um anjo de asas semi-abertas ou então outros símbolos artísticos, geralmente humanos, sustentando o bojo do recipiente, destinado a receber a erva-mate. Aliás, frequentemente, este adorno continha flores em alto relevo, delicadas grinaldas, bordos dourados, etc. Em diversas cuias de porcelana liam-se inscrições como: amizade, saúde, amor, felicidade, etc. que pela sua grafia nos leva a acreditar serem, predominantemente outrora fabricadas na França. Afora estas cuias antigas, de maior significado utilitário e decorativo, a porcelana atual fabricada no Rio Grande do Sul, com fins mais diversificados, resulta de uma mistura de quartzo de feldspato, barro e energia. Da pasta à modelagem, do cozimento à função dos objetos, do emprego de tintas à terminação, ela está fundamentada na cultura teuto-rio-grandense atual, sem maior vínculo estético, ou artístico à arte folclórica gauchesca propriamente dita". Para tais cuias pretéritas, exigiam-se bombas relativamente pequenas, proporcionais à peça com chupeta de ouro, lisas, com discretos anéis ou torneadas, na extensão da própria prata ou metal branco. Nas mais requintadas, via-se ao longo do comprimento ajustado à haste da própria bomba figuras de flores, pássaros fixos ao comprido ou inclusive as iniciais da dona da casa, próprio ao manuseio delicado dos dedos femininos. Sabe-se também pela orabilidade que o mate traduzia simbolicamente uma mensagem poética muda e por vezes amorosa relacionada ao namoro entre os jovens solteiros ou mesmo na roda das comadres no horário da meia-tarde em diante. Alguns mates se faziam acompanhar de jujos, isto é, ervas medicinais. Resenha de texto de Rosinha Duarte COMENTÁRIO DE NOSSO LEITOR HILTON LUIZ ARALDI SOBRE AS CUIAS DE PORCELANAS Buenas Lembro dos meus tempos de piá, lá em Campinas do Sul. Ninguém conhecia cuia de porcelana, mas os mate doce das comadres no meio da tarde eram feitas em cuia separada da que se fazia o mate da manhã, exigência do meu pai, pois o açúcar impregna no porongo e deixa o gosto que destoa com o sabor amargo do mate "amargo". Depois das comadres tomar seus mates, vinha a nossa hora, leite morno com açúcar, canela e outras ervas e especiarias e nóis, piás, cheios de grau, "tomando mate" feito jeito grande. Outra hábito do meu pai era nunca deixar a cuia com erva de um dia pro outro pra não azedar. A cuia deve ser limpa no final da tarde ou da noite e "pousar" de boca pra baixo, escorada na bomba, para escoar o restante da umidade e ventilar, pois se a boca fica de todo aborcada na mesa, não seca, e o mate fica com outro sabor. Não é questão de vício, mas sim de quem sabe como degustar mate à preceito. Grande abraço Hilton Luiz Araldi Fonte: blog do Léo Ribeiro |
SOBRE A CRIAÇÃO DA NOSSA BANDEIRA
Via Blog do Léo Ribeiro
Sobre nossa postagem de ontem fazendo referência a criação e a oficialização da bandeira da República do Piratini, nosso amigo e leitor Voni Santos nos envia o seguinte comentário: Na verdade a versão farrapa da bandeira do RS tem origem na nação Bantu (africana) e de inspiração artiguista. A verdadeira origem da bandeira do RS: http://nacion-bantu-oriental.blogspot.com.br/ Uma resenha do que fala o citado site: La primera insurrección de los esclavos de la Banda Oriental, fue en 1795, 1801 y luego en 1803 donde un grupo de esclavos rompió la sujeción a sus amos y se dirigió a las costas del río Yi, al Monte Grande, donde fundaron una Comunidad Negra Independiente a la que llamaban nación Bantú del Hum (río Negro) en Uruguay. Hum chonik (gente negra en charrúa) Kamba yvypóra (gente negra en guaraní) Los colores que representaban a los afrouruguayos eran el verde, amarillo y rojo que eran utilizado por los negros de Kikongo. Esto mismo colores fueron elegido para la bandera de la Nación Gaucha de la Banda Charrúa o Banda Oriental y por último terminado siendo los colores de la bandera de la República Riograndese hoy estado de Río Grande do Sul. La bandera gaucha fue creada con el rojo y verde portugues, y el rojo y amarillo español. Para simbolizar las dos madres patrias blancas, pero además simbolizaba la madre patria de la Nación Charrúa representada por el verde y rojo. Y los colores del Africa en especial de la nación Bantú que había realizado movimientos revolucionarios en Brasil y el Uruguay. La bandera fue utilizada por los gauchos en su lucha contra el imperio de Brasil contando con blancos, negros, indios y mestizos siendo apoyados por el ejercito gaucho uruguayo en forma indirecta. Los negros africanos llegaron al Río de la Plata a Montevideo pues era el único puerto de entrada de esclavos a dicha zona. Los primeros negros que llegaron a la Banda Oriental fueron introducidos al fundar la Colonia del Sacramento el Reino de Portugal en enero del 1680 Portugal fue la madre patria de la mayoría Banda Oriental con el Reino de España. En Montevideo la penetración de buques negreros, en forma sistemática, puede situarse en el período que va desde 1743 a 1814, quienes hablaban su idioma original y el portugues La mayoría de las naciones llegadas a Montevideo eran de etnia y cultura Bantú. Bantú significa gente "nosotros la gente" como Chonik nombre verdadero de nuestros hermanos charruas. Chonik significa gente "nosotros la gente" Las Naciones que fueron sometidas al apresamiento por parte de los negreros e invasores blancos fueron: Sierra Leona, Guinea, Cabinda, Kenia, Loanda, (hoy Camerún), Angola y el Congo. |
sexta-feira, 30 de dezembro de 2016
Sociedades Indígenas
Os indígenas
do Rio Grande do Sul, no período anterior à colonização portuguesa, eram ágrafos
transmitindo suas tradições e costumes através das lendas, mitos e rituais
religiosos, com exceção de uma parcela de guaranis mbyás que viviam nas reduções
alfabetizados pelos missionários jesuítas. Os grupos indígenas jês, pampianos e
guaranis povoaram o RS antes da ocupação européia.
As expansões povoadoras espanhola e portuguesa articularam-se de maneiras diferentes com o espaço indígena. No oeste do Rio Grande do Sul os missionários ergueram reduções com o objetivo de transformar os índios em cristãos e em súditos do rei da Espanha.
Os bandeirantes, em busca de mão-de-obra para a área de cultivo de cana-de-açúcar no litoral do Brasil, deixaram um rastro de sangue e de contágios de doenças européias entre os nativos jês e guaranis. A leste, os luso-brasileiros desencadearam o processo se povoamento através de sesmarias, transformadas em fazendas de criação de gado. Na zona da Campanha os luso-brasileiros aproveitaram o índio pampiano como soldado, peão e tropeiro. A mestiçagem foi fator dominante para o desaparecimento das culturas indígenas.
Cultura jê
Na região do Planalto Brasileiro Meridional viviam os jês, divididos em parcialidades denominadas guaianás, coroados, pinarés, ibijaras, caáguas, gualachos, botocudos e xocléns.
As parcialidades jês habitavam em aldeias de cinco a seis cabanas, com 20 a 25 famílias, dirigidas por um chefe que praticava feitiçaria. Um feiticeiro temido atuava em diversas aldeias, comunicando-se com os espíritos e curando doenças.
Os jês organizavam-se em dois clãs exogâmicos: o clã da lua, que era de guerreiros, e o clã do sol, formado por caçadores. O clã da lua dividia-se na metade votoro e na metade canheru. O clã do sol era formado pelas metades aniqui e camé. O chefe do clã dava licença para a mulher casar com o rapaz que ela escolheu, segundo as relações de parentesco. O homem podia dispor de sua mulher trocando-a ou emprestando-a por um objeto. Paradoxamente exigia-se fidelidade conjugal, sendo o adultério punido com a morte a flechadas, tanto o homem quanto a mulher.
Quando a mulher estava perto de dar a luz, o homem construía um pequeno rancho, na extremidade da aldeia, onde ela permanecia sozinha até após o parto. Depois do quarto ou quinto filho a mulher era esterilizada por uma beberagem.
A terra pertencia à comunidade, com território de caça marcado. Organizavam a caçada em grupo, tendo o cuidado de matar apenas os machos e de mudar o lugar de caça a cada dois anos. Os jês eliminavam quem entrasse armado em seu território de caça. Por isto reagiram contra os colonos alemães e italianos que matavam animais indiscriminadamente e por esporte.
O casal realizava a coleta de pinhão, transformando-o em farinha. Cada aldeia possuía seu pinheiral, não permitindo que índios de outras aldeias coletassem pinhão. Tal alto gerava guerra de extermínio entre moradores da aldeia que invadiu o pinheiral. A coleta de mel era comunitária, cada homem recebia uma vasilha de outra família. No fim de tarde os homens se reuniam junto a aldeia, entrando todos ao mesmo tempo e entregando o mel à dona do pote.
Praticavam a agricultura rudimentar. O homem preparava o terreno pela coivara e a mulher plantava e colhia. Cultivavam o milho, a mandioca, a abóbora e a batata-doce.
Exímios costeiros, os jês usavam diversas fibras vegetais, inclusive o caraguatá para tecerem túnicas para as mulheres.
Cuidavam da limpeza corporal e enfeitavam-se com penas, penteados complicados e com pintura corporal que identificava o grupo, o clã, a idade e o sexo. Os homens furavam o lábio inferior para colocar o batoque, uma rodela de madeira.
Andavam nus da cabeça aos pés, os homens traziam uma cinta larga em volta dos quadris, formada de cordões das fibras de tucum ou da urtiga brava.
O grupo realizava o controle social punindo o homem faltoso com a expulsão temporária da choça comum ou designando-lhes tarefas femininas. A mulher faltosa era entregue a outro homem como punição. A mulher jê até hoje é mais agressiva que o homem, chegando a bater no marido que não reage.
Acreditavam em Maré, Deus criador e civilizador. Consideravam o sol e a lua como protetores de colheita, de puberdade e da procriação. A alma do morto, chamada de acupli, podia encostar-se em alguém, trazendo-lhes doenças e até loucura. Enterravam o morto em posição fetal num buraco protegido por lajes de pedra ou ramos de árvore, sem contato com a terra, junto com vasilha de água, cães e armas.
Os coroados, fugindo dos brancos e dos seus inimigos botocudos construíam seus ranchos no alto dos morros, no meio de pinheirais. O chefe principal designava os lugares das aldeias que lhe eram subordinadas. Só o chefe principal possuía várias mulheres, dispondo delas para trocas de objetos, mas sempre ficando com os filhos. Se o chefe principal brigasse com outro subordinado, iria perseguir os dissidentes até o extermínio. Só restava ao grupo dissidente viver se escondendo e correndo pelas matas. Os homens vencidos eram mortos, poupando-se apenas as mulheres e crianças.
As epidemias de origem européia e africana e a ação dos bugreiros destruíram os jês. Os bugreiros, matadores profissionais que recebiam pagamento por índios mortos, provocaram o vazio demográfico indígena nas trilhas das tropas de gado. Levas de indígenas, corridos pelos cafeicultores de São Paulo, chegaram ao Rio Grande do Sul no final do Século XIX. Novamente os bugreiros agiram nas áreas de imigração de Maratá, Taquara do Mundo Novo, Colônia São Pedro, Erechim e Erebango na limpeza étnica, a fim de que as terras estivessem desocupadas para o uso de imigrantes europeus. Em 1882 Telêmaco Morocines Borba reuniu os índios de idioma e deu-lhes o nome de caingangues (habitantes do mato).
Colocaram os índios caingangues em reservas, administradas pela FUNAI. Colonos, com a conivência dos índios, passaram a erguer casas e plantarem lavouras de milho, até que em maio de 1978 os caingangues se revoltaram sob a liderança do cacique Xangré e expulsaram os posseiros, num total de 350 famílias, que foram recolocadas no Mato Grosso.
Cultura pampiana
Na zona de campanha predominavam os índios de fala quíchuam divididos nas parcialidades charruas, minuanos, yarós, guenoas e chanás. Formavam famílias extensas que moravam em toldos cobertos de esteiras, substituídas por couro com a chegada do gado europeu. Só em tempos de guerra é que escolhiam temporariamente um chefe. Erigiam os toldos junto a banhados onde havia abundância de aves aquáticas, peixes e crustáceos. Complementavam a alimentação com a caça e com a coleta de frutos e mel. Não se dedicavam ao cultivo plantas. Vagavam de um lugar para outro em busca de caça, levando consigo as mulheres e filhos. As mulheres seguiam a pé, carregando tudo o que pertencia à família. Exímios caçadores usavam lanças, flechas, tacapes, rompe-cabeças, boleadeiras e pedras lanças por fundas. Pescavam com rede e com flechas. Usavam boleadeiras para caçar aves aquáticas, no momento em que elas alçavam o vôo. A introdução do gado europeu modificou a vida doa pampianos que se transformaram em exímios cavaleiros e passaram a se alimentar do gado vacum e cavalar.
Praticavam a poligamia e quando a mulher envelhecia, tomavam uma mais jovem. O homem não se importava se a china (mulher) tivesse relações com outro. Trocavam a mulher por qualquer objeto. Os homens se adornavam com tatuagens, pintura corporal e plumas. Andavam despidos ou enrolavam o corpo com o quillapis, manto com couros costurados com tento. Usavam botas de garrão de potro. Em contato com os espanhóis, vestiam o poncho, o chiripá e cobriam com chapéu de couro de “barriga de burro”. Contratados como peões ou tropeiros, adotaram com indumentária a ceroula com renda de crivo, chiripá, robessor, colete, camisa, e chapéu de copa alta. Em contato com os europeus, as mulheres passaram a vestir uma túnica de algodão.
Conseguiam a erva-mate com os guaranis, bebendo o mati numa cuia e sem bomba, mastigando a erva.
Acreditavam que toda a pessoa tem um espírito guia que se revela quando o índio trespassava os braços com varetas de taquara e jejuava dentro de um buraco. Enterravam seus mortos em túmulos formados por pedras amontoadas no alto das coxilhas, colocando junto ao corpo a lança e as boleadeiras. O luto durava dez dias e as mulheres cortavam uma falange do dedo da mão em sinal de dor pela perda do parente.
Quando os caçadores retornavam ao toldo, deitavam-se para descansar enquanto as mulheres desencilhavam e lavavam os cavalos, buscavam lenha e cozinham a caça.
Missionários jesuítas atravessavam o rio Uruguai tentando catequizar as parcialidades charruas e minuanas, que não aceitaram viver em reduções. Missionários franciscanos, dominicanos e mercedários, oriundos de Buenos Aires, também tentaram reduzir os pampianos. Constituíram a primeira redução de charruas na ilha Vizcaíno, na confluência do rio Negro com o rio Uruguai, em 1626. A redução religiosa durou apenas dois anos. Na mesma época aldearam sem sucesso os chanás na missão de Santo Antônio. A redução de Santa Maria dos Guenoas, que seria mais um dos Sete Povos, também fracassou. A vida de caçador, a falta de organização comunitária mais complexa e de afinidades com a religião católica dificultaram a formação de missões com os pampianos.
Portugueses e espanhóis ocuparam as terras dos pampianos com fortalezas, vilas e estâncias: Colônia do Santíssimo Sacramento em 1680, estâncias dos Sete Povos a partir de 1682, fundação de San felipe de Montevidéu em 1726, São Pedro do Rio Grande, estâncias de espanhóis e de portugueses, diminuindo o espaço dos charruas e minuanos, que passaram a formar os maloneses para pilhagem das estâncias e rapto de mulheres e crianças.
Empurrados pelas frentes de colonização em direção as cabeceiras do rio Negro e para a região entre os rios Quarai e Quequai, os charruas se uniram aos minuanos. Em 1811 e 1820 os charruas e minuanos participaram como soldados das tropas de José Gervásio Artigas. As constantes campanhas dos espanhóis contra as chamadas nações bárbaras, denominadas de guerra dos charruas, destruíram a população indígena da Banda Oriental do Uruguai. Os remanescentes se refugiaram, em 1832, do lado sul-rio-grandense, incorporando-se à tropa de Bento Manuel Ribeiro ou como peões de estâncias.
Os pampianos abrigavam em seus toldos os foragidos, os desertores e contrabandistas de origem portuguesa, espanhola ou africana, não se importavam que suas chinas se unissem com os fugitivos, mesmo temporariamente. Esse costume facilitou a formação do grupo social chamado de gaudério ou gaúcho.
Os pampianos legaram vários vocábulos que ainda são usados na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul: cancha, china, chiripá, poncho, guacho, charque, chasque, chiru, guaiaca, guampa, guasca, inhapa, lechiguana, mate, pampa, tambo e vincha.
Cultura Guarani
Os guaranis mbyás, vindos do Paraguai há mais de dois mil anos conquistaram o vale do rio Uruguai, subindo por seus afluentes. Do vale do rio Ibicuí atingiram a depressão do rio Jacuí e seus afluentes. Na época da evangelização os missionários jesuítas chamavam de Chapê, o caminho, a região entre os rios Jaguarí, Uruguai e Ibicuí. Denominavam os índios que aí habitavam de índios do Chapê, como indicativo de índio de um lugar, que passou a ser denominado de Tapes. No século XIX a denominação de topônimo deslocou-se para junto da Laguna dos Patos.
Os guaranis caracterizavam-se pelo nhande-reko, o modo de ser em relação ao espaço geográfico chamado teko-hã, onde se vive. Esse espaço geográfico e cultural era formado pela aldeia (tetami), casas (coty), roças (co), caminhos (chapê), caminho da roça (Chapecó) e mato (caa). Viviam em aldeias com várias casas dispostas em círculo, no centro erguiam a casa dos homens. Cada clã ocupava uma casa de forma alongada, com porta para homens e outra para as mulheres. Dormiam em redes e guardavam objetos num jirau, sentavam em banquinhos ou esteiras, colocavam os grãos ou líquidos em potes de cerâmica ou em porongos.
Os guaranis praticavam agricultura especializada em clareiras abertas com a queima das árvores e arbustos. Esta preparação chamava-se de coivara. Usavam várias clareiras com a roça em estágios diferentes de plantação, maturação e colheita, deixando sempre uma com capoeira para a recuperação do solo.
O homem fazia a coivara e, com um bastão, praticava furos no solo para que a mulher semeasse ou plantasse. Embora trabalhassem em grupo, cada família tinha sua plantação. Cultivavam milho, mandioca, feijão, abóbora, batata-doce, amendoim, fumo e algodão.
Coletavam a erva-mate e frutos de plantas nativas. Pescavam com redes e flechas. A caça era comunitária e o matador do animal repartia a carne entre os demais caçadores. Os mbyás armavam-se de arco, flechas, lança e tacape.
O Page era encarregado de transmitir o teko-yma, o proceder antigo, pois os mbyás executavam todos os atos do cotidiano com o ritualismo que mantinha a ordem cósmica, como a primeira pintura corporal, a poligamia dos chefes, o couvade, a saudação lacrimosa, a educação dos filhos, os sonhos proféticos, o canibalismo e o puxirum ou mutirão.
Os clãs estavam divididos em metades. Os chefes clãs, cós os chefes das metades, participavam do Conselho da aldeia que decidia sobre migração, caçada, guerra e paz. O Page também participava do Conselho. Havia também o morubixava que mantinha a ordem na aldeia, atuando como elemento de conciliação. O taxauá era um chefe provisório de caçada, ataque bélico ou de pescaria.
Os homens de adornavam mais que as mulheres, tatuando e pintando o corpo, usando colares, pulseiras de sementes, contas e plumas. Furavam o lábio inferior para colocar o tembetá. A pintura corporal tinha significados simbólicos, sendo característica de cada clã, metade do clã, sexo, idade e posição dentro do grupo.
Havia a poligamia usualmente dos chefes, que precisavam de mulheres que trabalhassem para darem comida e objetos aos seus subordinados, mantendo assim a chefia. Davam suas mulheres a outros homens em troca de objetos ou em penhor de uma aliança. Esse costume facilitou a mestiçagem com os brancos.
Os guaranis praticavam o couvade ou choco como ritual de proteção ao recém nascido. Quando a mulher dava à luz, o homem não comia carne durante 15 dias, permanecendo de resguardo na rede. A mulher era colocada numa pequena choça, fora da aldeia onde tinha o parto sozinha. Ela cortava o cordão umbilical, lavava a criança e depois levava para o pai, que aguardava na rede. Se ele pegasse a criança, estava reconhecendo-lhe como filho. A mulher ia logo trabalhar na roça a fim de enganar os maus espíritos, que poderiam se apossar da criança. Era também uma maneira de selecionar as mulheres mais resistentes.
Quando chegava um hóspede na aldeia guarani, as mulheres praticavam a saudação lacrimosa. O recém chegado sentava na rede enquanto as mulheres choravam com grande alarido, depois enxugavam as lágrimas e davam boas vindas ao viajante. Só então os homens da aldeia falavam com o hóspede.
O menino até os oito anos permanecia junto da mãe, depois ia para a casa dos homens, quando passava a aprender com o pai a pescar e a caçar. Os homossexuais do grupo davam a iniciação sexual ao menino. A menina permanecia junto à mãe até o matrimônio. Durante a primeira menstruação a menina ficava recolhida e não podia ver animal e homem. As lésbicas davam-lhe a iniciação sexual. Após a primeira menstruação, a moça tinha liberdade sexual, desde que seus parentes fossem indenizados. Não batiam, não gritava e nem castigavam os filhos.
Acreditavam que um banho frio pela manhã prolongava a vida. Ao acordar, o guarani contava seus sonhos, em busca de uma interpretação, pois acreditava que eles eram proféticos. Praticavam o canibalismo, comendo os prisioneiros de guerra por ato de vingança, não escapando os velhos, mulheres e crianças.
O puxirum ou mutirão era o trabalho em grupo para ajudar na construção da roça ou de uma casa. Nesse caso, o beneficiado pagava os participantes com bebida alcoólica.
Algumas parcialidades guaranis recolhiam os ossos de seus mortos, colocando-os em igaçaba, grande pote em que guardavam grãos e que passava a servir de uma funerária. Acreditavam que o anguera, o espírito do morto, podia escolher três caminhos: reencarnar numa criança que nascia, encostar-se em alguém lhe dando loucura ou doença ou seguir para a casa de Monan, onde não faltariam calor, água e caça. Acreditavam que a alma possui três aspectos, o da vida, do sonho e de um animal. Criam que existia um paraíso na terra, o Yvimaray, a terra sem males. O pagé entrava em transe e revelava onde ficava o Yvimaray, levando a aldeia a migrar. Os mbyás consideram a terra imperfeita, ciclicamente destruída pelo fogo ou pela água, surgindo uma nova vida. Quando os europeus chegaram, os índios consideraram como um sinal de que um novo mundo começava, com a destruição do antigo.
Nhanderu, o primeiro e uno vivia na escuridão, iluminando apenas pela luz de seu coração. Um colibri alimentava Nhanderu, que por seu amor criou as palavras-almas. Algumas delas erram e foram lançadas na terra, dando origem aos homens imperfeitos.
A teogogia guarani compunha-se de Monan, o Deus criador e pai de Maíramoran, que os homens queimaram numa fogueira e de sua cabeça saiu o trovão (Tupã), que por vingança queimou com o fogo o céu e a terra imperfeita, salvando-se apenas Irin-majé e sua esposa que povoaram a terra. Em outra visão Irin-majé, filho de Monan, é a chuva que fertiliza a terra. O duplo de Monan é Sumé, o civilizador que ensinou a agricultura. Em outra versão, Sumé é filho de Irin-Majé. De Sumé nasceram os gêmeos Temendonaré, que deu os nomes às coisas que Monan criou, fazendo com que elas passassem a ser, e Aricoute ciumento que mandou o dilúvio. Temendonaré ensinou os homens a sobreviverem na grande enchente, refugiando-se no alto de palmeiras. Outra versão afirma que se salvo um índio e sua irmã grávida, no alto de uma palmeira. Depois do dilúvio nasceu uma menina, que mais tarde se unirá ao tio materno, dando origem à humanidade.
Acreditavam no Curupira, este fantástico com os pés virados para trás, que protegia os animais fêmeas e filhotes. A Caapora (Caipora), pequeno e triste, que trazia a infelicidade para quem o visse. A Uiara (Iara), ente feminino que atraía o índio para o fundo do rio. O Yurupari (Jurupari) era o espírito do mal, o demônio.
Segundo a lenda da Mboytatá (Cobra de fogo), a chuva caía sem parar, dias e dias, aumentando os rios e lagoas, que transbordaram. Os animais procuraram abrigo nos lugares mais altos, mas faltava comida. De tanto animal morto, a Cobra (Mboy) só comia os olhos dos cadáveres. Comeu tanto que seu corpo começou a brilhar como se tivesse milhares de olhos. Transformou-se na Mboitatá, que a noite percorre os campos como um fogo azulado.
Os guaranis históricos desapareceram lentamente no Rio Grande do Sul, pelos ataques dos bandeirantes, pela guerra guaranítica, pela escravidão imposta pelo governo militar espanhol nas reduções depois da expulsão dos jesuítas, pelo recrutamento militar e, principalmente pela mestiçagem das mulheres mbyás com homens brancos.
Em 1756 portugueses e espanhóis invadiram os sete Povos, 1757, os portugueses levaram cerca de dez mil índios que foram assentados nas aldeias de São Nicolau de Rio Pardo, São Nicolau de Cachoeira e, em 1762, na de Nossa Senhora dos Anjos (Gravataí). Com a invasão luso-brasileira nos Sete Povos, 1801, os guaranis se dispersaram pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, trabalhando como peões, tropeiros e artesãos.
Os guaranis, existentes atualmente no Rio Grande do Sul, chegaram em fins do século XIX, corridos pelos cafeicultores e pelas frentes de colonização no Paraná e Santa Catarina. Alguns grupos menores são oriundos do Paraguai.
Na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul há vários termos de origem guarani: aguapé, araçá, araponga, aroeira, biboca, biriva, boçoroca, caboclo, capão, capim, capivara, capoeira, Che, cutucar, cipó, cuia, goiaba, gravatá, guaraxaim, guri, jacaré, jaguar, jararaca, jirau, joá, lambari, mabira, marica, micuim, perereca, perau, peteca, piá, pitanga, tapera, taquara, tatu, tiririca e urubu. Outra herança cultura é o uso da erva-mate (caá-iari), na forma de chimarrão (caá-iró). Se examinarmos os mapas do Paraguai, Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, veremos que predominam topônimos guaranis; Taquari, Jacuí, Itacolomi, Itapuã, Paraná, Jaguari.
Referência: Livro História do Rio Grande do Sul de Moacyr Flores
Fonte: blog Cantinho Gaúcho, de Carolina Bouvie
As expansões povoadoras espanhola e portuguesa articularam-se de maneiras diferentes com o espaço indígena. No oeste do Rio Grande do Sul os missionários ergueram reduções com o objetivo de transformar os índios em cristãos e em súditos do rei da Espanha.
Os bandeirantes, em busca de mão-de-obra para a área de cultivo de cana-de-açúcar no litoral do Brasil, deixaram um rastro de sangue e de contágios de doenças européias entre os nativos jês e guaranis. A leste, os luso-brasileiros desencadearam o processo se povoamento através de sesmarias, transformadas em fazendas de criação de gado. Na zona da Campanha os luso-brasileiros aproveitaram o índio pampiano como soldado, peão e tropeiro. A mestiçagem foi fator dominante para o desaparecimento das culturas indígenas.
Cultura jê
Na região do Planalto Brasileiro Meridional viviam os jês, divididos em parcialidades denominadas guaianás, coroados, pinarés, ibijaras, caáguas, gualachos, botocudos e xocléns.
As parcialidades jês habitavam em aldeias de cinco a seis cabanas, com 20 a 25 famílias, dirigidas por um chefe que praticava feitiçaria. Um feiticeiro temido atuava em diversas aldeias, comunicando-se com os espíritos e curando doenças.
Os jês organizavam-se em dois clãs exogâmicos: o clã da lua, que era de guerreiros, e o clã do sol, formado por caçadores. O clã da lua dividia-se na metade votoro e na metade canheru. O clã do sol era formado pelas metades aniqui e camé. O chefe do clã dava licença para a mulher casar com o rapaz que ela escolheu, segundo as relações de parentesco. O homem podia dispor de sua mulher trocando-a ou emprestando-a por um objeto. Paradoxamente exigia-se fidelidade conjugal, sendo o adultério punido com a morte a flechadas, tanto o homem quanto a mulher.
Quando a mulher estava perto de dar a luz, o homem construía um pequeno rancho, na extremidade da aldeia, onde ela permanecia sozinha até após o parto. Depois do quarto ou quinto filho a mulher era esterilizada por uma beberagem.
A terra pertencia à comunidade, com território de caça marcado. Organizavam a caçada em grupo, tendo o cuidado de matar apenas os machos e de mudar o lugar de caça a cada dois anos. Os jês eliminavam quem entrasse armado em seu território de caça. Por isto reagiram contra os colonos alemães e italianos que matavam animais indiscriminadamente e por esporte.
O casal realizava a coleta de pinhão, transformando-o em farinha. Cada aldeia possuía seu pinheiral, não permitindo que índios de outras aldeias coletassem pinhão. Tal alto gerava guerra de extermínio entre moradores da aldeia que invadiu o pinheiral. A coleta de mel era comunitária, cada homem recebia uma vasilha de outra família. No fim de tarde os homens se reuniam junto a aldeia, entrando todos ao mesmo tempo e entregando o mel à dona do pote.
Praticavam a agricultura rudimentar. O homem preparava o terreno pela coivara e a mulher plantava e colhia. Cultivavam o milho, a mandioca, a abóbora e a batata-doce.
Exímios costeiros, os jês usavam diversas fibras vegetais, inclusive o caraguatá para tecerem túnicas para as mulheres.
Cuidavam da limpeza corporal e enfeitavam-se com penas, penteados complicados e com pintura corporal que identificava o grupo, o clã, a idade e o sexo. Os homens furavam o lábio inferior para colocar o batoque, uma rodela de madeira.
Andavam nus da cabeça aos pés, os homens traziam uma cinta larga em volta dos quadris, formada de cordões das fibras de tucum ou da urtiga brava.
O grupo realizava o controle social punindo o homem faltoso com a expulsão temporária da choça comum ou designando-lhes tarefas femininas. A mulher faltosa era entregue a outro homem como punição. A mulher jê até hoje é mais agressiva que o homem, chegando a bater no marido que não reage.
Acreditavam em Maré, Deus criador e civilizador. Consideravam o sol e a lua como protetores de colheita, de puberdade e da procriação. A alma do morto, chamada de acupli, podia encostar-se em alguém, trazendo-lhes doenças e até loucura. Enterravam o morto em posição fetal num buraco protegido por lajes de pedra ou ramos de árvore, sem contato com a terra, junto com vasilha de água, cães e armas.
Os coroados, fugindo dos brancos e dos seus inimigos botocudos construíam seus ranchos no alto dos morros, no meio de pinheirais. O chefe principal designava os lugares das aldeias que lhe eram subordinadas. Só o chefe principal possuía várias mulheres, dispondo delas para trocas de objetos, mas sempre ficando com os filhos. Se o chefe principal brigasse com outro subordinado, iria perseguir os dissidentes até o extermínio. Só restava ao grupo dissidente viver se escondendo e correndo pelas matas. Os homens vencidos eram mortos, poupando-se apenas as mulheres e crianças.
As epidemias de origem européia e africana e a ação dos bugreiros destruíram os jês. Os bugreiros, matadores profissionais que recebiam pagamento por índios mortos, provocaram o vazio demográfico indígena nas trilhas das tropas de gado. Levas de indígenas, corridos pelos cafeicultores de São Paulo, chegaram ao Rio Grande do Sul no final do Século XIX. Novamente os bugreiros agiram nas áreas de imigração de Maratá, Taquara do Mundo Novo, Colônia São Pedro, Erechim e Erebango na limpeza étnica, a fim de que as terras estivessem desocupadas para o uso de imigrantes europeus. Em 1882 Telêmaco Morocines Borba reuniu os índios de idioma e deu-lhes o nome de caingangues (habitantes do mato).
Colocaram os índios caingangues em reservas, administradas pela FUNAI. Colonos, com a conivência dos índios, passaram a erguer casas e plantarem lavouras de milho, até que em maio de 1978 os caingangues se revoltaram sob a liderança do cacique Xangré e expulsaram os posseiros, num total de 350 famílias, que foram recolocadas no Mato Grosso.
Cultura pampiana
Na zona de campanha predominavam os índios de fala quíchuam divididos nas parcialidades charruas, minuanos, yarós, guenoas e chanás. Formavam famílias extensas que moravam em toldos cobertos de esteiras, substituídas por couro com a chegada do gado europeu. Só em tempos de guerra é que escolhiam temporariamente um chefe. Erigiam os toldos junto a banhados onde havia abundância de aves aquáticas, peixes e crustáceos. Complementavam a alimentação com a caça e com a coleta de frutos e mel. Não se dedicavam ao cultivo plantas. Vagavam de um lugar para outro em busca de caça, levando consigo as mulheres e filhos. As mulheres seguiam a pé, carregando tudo o que pertencia à família. Exímios caçadores usavam lanças, flechas, tacapes, rompe-cabeças, boleadeiras e pedras lanças por fundas. Pescavam com rede e com flechas. Usavam boleadeiras para caçar aves aquáticas, no momento em que elas alçavam o vôo. A introdução do gado europeu modificou a vida doa pampianos que se transformaram em exímios cavaleiros e passaram a se alimentar do gado vacum e cavalar.
Praticavam a poligamia e quando a mulher envelhecia, tomavam uma mais jovem. O homem não se importava se a china (mulher) tivesse relações com outro. Trocavam a mulher por qualquer objeto. Os homens se adornavam com tatuagens, pintura corporal e plumas. Andavam despidos ou enrolavam o corpo com o quillapis, manto com couros costurados com tento. Usavam botas de garrão de potro. Em contato com os espanhóis, vestiam o poncho, o chiripá e cobriam com chapéu de couro de “barriga de burro”. Contratados como peões ou tropeiros, adotaram com indumentária a ceroula com renda de crivo, chiripá, robessor, colete, camisa, e chapéu de copa alta. Em contato com os europeus, as mulheres passaram a vestir uma túnica de algodão.
Conseguiam a erva-mate com os guaranis, bebendo o mati numa cuia e sem bomba, mastigando a erva.
Acreditavam que toda a pessoa tem um espírito guia que se revela quando o índio trespassava os braços com varetas de taquara e jejuava dentro de um buraco. Enterravam seus mortos em túmulos formados por pedras amontoadas no alto das coxilhas, colocando junto ao corpo a lança e as boleadeiras. O luto durava dez dias e as mulheres cortavam uma falange do dedo da mão em sinal de dor pela perda do parente.
Quando os caçadores retornavam ao toldo, deitavam-se para descansar enquanto as mulheres desencilhavam e lavavam os cavalos, buscavam lenha e cozinham a caça.
Missionários jesuítas atravessavam o rio Uruguai tentando catequizar as parcialidades charruas e minuanas, que não aceitaram viver em reduções. Missionários franciscanos, dominicanos e mercedários, oriundos de Buenos Aires, também tentaram reduzir os pampianos. Constituíram a primeira redução de charruas na ilha Vizcaíno, na confluência do rio Negro com o rio Uruguai, em 1626. A redução religiosa durou apenas dois anos. Na mesma época aldearam sem sucesso os chanás na missão de Santo Antônio. A redução de Santa Maria dos Guenoas, que seria mais um dos Sete Povos, também fracassou. A vida de caçador, a falta de organização comunitária mais complexa e de afinidades com a religião católica dificultaram a formação de missões com os pampianos.
Portugueses e espanhóis ocuparam as terras dos pampianos com fortalezas, vilas e estâncias: Colônia do Santíssimo Sacramento em 1680, estâncias dos Sete Povos a partir de 1682, fundação de San felipe de Montevidéu em 1726, São Pedro do Rio Grande, estâncias de espanhóis e de portugueses, diminuindo o espaço dos charruas e minuanos, que passaram a formar os maloneses para pilhagem das estâncias e rapto de mulheres e crianças.
Empurrados pelas frentes de colonização em direção as cabeceiras do rio Negro e para a região entre os rios Quarai e Quequai, os charruas se uniram aos minuanos. Em 1811 e 1820 os charruas e minuanos participaram como soldados das tropas de José Gervásio Artigas. As constantes campanhas dos espanhóis contra as chamadas nações bárbaras, denominadas de guerra dos charruas, destruíram a população indígena da Banda Oriental do Uruguai. Os remanescentes se refugiaram, em 1832, do lado sul-rio-grandense, incorporando-se à tropa de Bento Manuel Ribeiro ou como peões de estâncias.
Os pampianos abrigavam em seus toldos os foragidos, os desertores e contrabandistas de origem portuguesa, espanhola ou africana, não se importavam que suas chinas se unissem com os fugitivos, mesmo temporariamente. Esse costume facilitou a formação do grupo social chamado de gaudério ou gaúcho.
Os pampianos legaram vários vocábulos que ainda são usados na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul: cancha, china, chiripá, poncho, guacho, charque, chasque, chiru, guaiaca, guampa, guasca, inhapa, lechiguana, mate, pampa, tambo e vincha.
Cultura Guarani
Os guaranis mbyás, vindos do Paraguai há mais de dois mil anos conquistaram o vale do rio Uruguai, subindo por seus afluentes. Do vale do rio Ibicuí atingiram a depressão do rio Jacuí e seus afluentes. Na época da evangelização os missionários jesuítas chamavam de Chapê, o caminho, a região entre os rios Jaguarí, Uruguai e Ibicuí. Denominavam os índios que aí habitavam de índios do Chapê, como indicativo de índio de um lugar, que passou a ser denominado de Tapes. No século XIX a denominação de topônimo deslocou-se para junto da Laguna dos Patos.
Os guaranis caracterizavam-se pelo nhande-reko, o modo de ser em relação ao espaço geográfico chamado teko-hã, onde se vive. Esse espaço geográfico e cultural era formado pela aldeia (tetami), casas (coty), roças (co), caminhos (chapê), caminho da roça (Chapecó) e mato (caa). Viviam em aldeias com várias casas dispostas em círculo, no centro erguiam a casa dos homens. Cada clã ocupava uma casa de forma alongada, com porta para homens e outra para as mulheres. Dormiam em redes e guardavam objetos num jirau, sentavam em banquinhos ou esteiras, colocavam os grãos ou líquidos em potes de cerâmica ou em porongos.
Os guaranis praticavam agricultura especializada em clareiras abertas com a queima das árvores e arbustos. Esta preparação chamava-se de coivara. Usavam várias clareiras com a roça em estágios diferentes de plantação, maturação e colheita, deixando sempre uma com capoeira para a recuperação do solo.
O homem fazia a coivara e, com um bastão, praticava furos no solo para que a mulher semeasse ou plantasse. Embora trabalhassem em grupo, cada família tinha sua plantação. Cultivavam milho, mandioca, feijão, abóbora, batata-doce, amendoim, fumo e algodão.
Coletavam a erva-mate e frutos de plantas nativas. Pescavam com redes e flechas. A caça era comunitária e o matador do animal repartia a carne entre os demais caçadores. Os mbyás armavam-se de arco, flechas, lança e tacape.
O Page era encarregado de transmitir o teko-yma, o proceder antigo, pois os mbyás executavam todos os atos do cotidiano com o ritualismo que mantinha a ordem cósmica, como a primeira pintura corporal, a poligamia dos chefes, o couvade, a saudação lacrimosa, a educação dos filhos, os sonhos proféticos, o canibalismo e o puxirum ou mutirão.
Os clãs estavam divididos em metades. Os chefes clãs, cós os chefes das metades, participavam do Conselho da aldeia que decidia sobre migração, caçada, guerra e paz. O Page também participava do Conselho. Havia também o morubixava que mantinha a ordem na aldeia, atuando como elemento de conciliação. O taxauá era um chefe provisório de caçada, ataque bélico ou de pescaria.
Os homens de adornavam mais que as mulheres, tatuando e pintando o corpo, usando colares, pulseiras de sementes, contas e plumas. Furavam o lábio inferior para colocar o tembetá. A pintura corporal tinha significados simbólicos, sendo característica de cada clã, metade do clã, sexo, idade e posição dentro do grupo.
Havia a poligamia usualmente dos chefes, que precisavam de mulheres que trabalhassem para darem comida e objetos aos seus subordinados, mantendo assim a chefia. Davam suas mulheres a outros homens em troca de objetos ou em penhor de uma aliança. Esse costume facilitou a mestiçagem com os brancos.
Os guaranis praticavam o couvade ou choco como ritual de proteção ao recém nascido. Quando a mulher dava à luz, o homem não comia carne durante 15 dias, permanecendo de resguardo na rede. A mulher era colocada numa pequena choça, fora da aldeia onde tinha o parto sozinha. Ela cortava o cordão umbilical, lavava a criança e depois levava para o pai, que aguardava na rede. Se ele pegasse a criança, estava reconhecendo-lhe como filho. A mulher ia logo trabalhar na roça a fim de enganar os maus espíritos, que poderiam se apossar da criança. Era também uma maneira de selecionar as mulheres mais resistentes.
Quando chegava um hóspede na aldeia guarani, as mulheres praticavam a saudação lacrimosa. O recém chegado sentava na rede enquanto as mulheres choravam com grande alarido, depois enxugavam as lágrimas e davam boas vindas ao viajante. Só então os homens da aldeia falavam com o hóspede.
O menino até os oito anos permanecia junto da mãe, depois ia para a casa dos homens, quando passava a aprender com o pai a pescar e a caçar. Os homossexuais do grupo davam a iniciação sexual ao menino. A menina permanecia junto à mãe até o matrimônio. Durante a primeira menstruação a menina ficava recolhida e não podia ver animal e homem. As lésbicas davam-lhe a iniciação sexual. Após a primeira menstruação, a moça tinha liberdade sexual, desde que seus parentes fossem indenizados. Não batiam, não gritava e nem castigavam os filhos.
Acreditavam que um banho frio pela manhã prolongava a vida. Ao acordar, o guarani contava seus sonhos, em busca de uma interpretação, pois acreditava que eles eram proféticos. Praticavam o canibalismo, comendo os prisioneiros de guerra por ato de vingança, não escapando os velhos, mulheres e crianças.
O puxirum ou mutirão era o trabalho em grupo para ajudar na construção da roça ou de uma casa. Nesse caso, o beneficiado pagava os participantes com bebida alcoólica.
Algumas parcialidades guaranis recolhiam os ossos de seus mortos, colocando-os em igaçaba, grande pote em que guardavam grãos e que passava a servir de uma funerária. Acreditavam que o anguera, o espírito do morto, podia escolher três caminhos: reencarnar numa criança que nascia, encostar-se em alguém lhe dando loucura ou doença ou seguir para a casa de Monan, onde não faltariam calor, água e caça. Acreditavam que a alma possui três aspectos, o da vida, do sonho e de um animal. Criam que existia um paraíso na terra, o Yvimaray, a terra sem males. O pagé entrava em transe e revelava onde ficava o Yvimaray, levando a aldeia a migrar. Os mbyás consideram a terra imperfeita, ciclicamente destruída pelo fogo ou pela água, surgindo uma nova vida. Quando os europeus chegaram, os índios consideraram como um sinal de que um novo mundo começava, com a destruição do antigo.
Nhanderu, o primeiro e uno vivia na escuridão, iluminando apenas pela luz de seu coração. Um colibri alimentava Nhanderu, que por seu amor criou as palavras-almas. Algumas delas erram e foram lançadas na terra, dando origem aos homens imperfeitos.
A teogogia guarani compunha-se de Monan, o Deus criador e pai de Maíramoran, que os homens queimaram numa fogueira e de sua cabeça saiu o trovão (Tupã), que por vingança queimou com o fogo o céu e a terra imperfeita, salvando-se apenas Irin-majé e sua esposa que povoaram a terra. Em outra visão Irin-majé, filho de Monan, é a chuva que fertiliza a terra. O duplo de Monan é Sumé, o civilizador que ensinou a agricultura. Em outra versão, Sumé é filho de Irin-Majé. De Sumé nasceram os gêmeos Temendonaré, que deu os nomes às coisas que Monan criou, fazendo com que elas passassem a ser, e Aricoute ciumento que mandou o dilúvio. Temendonaré ensinou os homens a sobreviverem na grande enchente, refugiando-se no alto de palmeiras. Outra versão afirma que se salvo um índio e sua irmã grávida, no alto de uma palmeira. Depois do dilúvio nasceu uma menina, que mais tarde se unirá ao tio materno, dando origem à humanidade.
Acreditavam no Curupira, este fantástico com os pés virados para trás, que protegia os animais fêmeas e filhotes. A Caapora (Caipora), pequeno e triste, que trazia a infelicidade para quem o visse. A Uiara (Iara), ente feminino que atraía o índio para o fundo do rio. O Yurupari (Jurupari) era o espírito do mal, o demônio.
Segundo a lenda da Mboytatá (Cobra de fogo), a chuva caía sem parar, dias e dias, aumentando os rios e lagoas, que transbordaram. Os animais procuraram abrigo nos lugares mais altos, mas faltava comida. De tanto animal morto, a Cobra (Mboy) só comia os olhos dos cadáveres. Comeu tanto que seu corpo começou a brilhar como se tivesse milhares de olhos. Transformou-se na Mboitatá, que a noite percorre os campos como um fogo azulado.
Os guaranis históricos desapareceram lentamente no Rio Grande do Sul, pelos ataques dos bandeirantes, pela guerra guaranítica, pela escravidão imposta pelo governo militar espanhol nas reduções depois da expulsão dos jesuítas, pelo recrutamento militar e, principalmente pela mestiçagem das mulheres mbyás com homens brancos.
Em 1756 portugueses e espanhóis invadiram os sete Povos, 1757, os portugueses levaram cerca de dez mil índios que foram assentados nas aldeias de São Nicolau de Rio Pardo, São Nicolau de Cachoeira e, em 1762, na de Nossa Senhora dos Anjos (Gravataí). Com a invasão luso-brasileira nos Sete Povos, 1801, os guaranis se dispersaram pelo Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, trabalhando como peões, tropeiros e artesãos.
Os guaranis, existentes atualmente no Rio Grande do Sul, chegaram em fins do século XIX, corridos pelos cafeicultores e pelas frentes de colonização no Paraná e Santa Catarina. Alguns grupos menores são oriundos do Paraguai.
Na linguagem coloquial do Rio Grande do Sul há vários termos de origem guarani: aguapé, araçá, araponga, aroeira, biboca, biriva, boçoroca, caboclo, capão, capim, capivara, capoeira, Che, cutucar, cipó, cuia, goiaba, gravatá, guaraxaim, guri, jacaré, jaguar, jararaca, jirau, joá, lambari, mabira, marica, micuim, perereca, perau, peteca, piá, pitanga, tapera, taquara, tatu, tiririca e urubu. Outra herança cultura é o uso da erva-mate (caá-iari), na forma de chimarrão (caá-iró). Se examinarmos os mapas do Paraguai, Argentina, Uruguai e Rio Grande do Sul, veremos que predominam topônimos guaranis; Taquari, Jacuí, Itacolomi, Itapuã, Paraná, Jaguari.
Referência: Livro História do Rio Grande do Sul de Moacyr Flores
Fonte: blog Cantinho Gaúcho, de Carolina Bouvie
Assinar:
Postagens (Atom)