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Dilmar Paixão –
(professor,
escritor e poeta)
Casualmente, este sítio (ou site “para os mais chiques”, como
pronuncia o povo da minha terra,) tem o sobrenome de “Pampeano”. Ora, o Jornal
Virtual Chasque Pampeano, inteligente iniciativa do Paulo Guimarães, ao surgir
ainda em dezembro de 2006, veio com a missão de ser um informativo cultural e jornalisticamente
atualizado, opinativo e coerente com a realidade, além de expressar a
preocupação de tantos com a preservação dos valores sociocomunitários
contemporâneos e tradicionais.
O pampa, ou a pampa
para os mais fronteiristas, de há muito não respeita fronteiras com países
vizinhos. A música é o mecanismo mais natural de transposição desses limites
geopolíticos. E foi por acaso, porque os anúncios são raros dos produtos de
qualidade - lamentavelmente, que, após o Galpão Crioulo, mudei o canal para o
Galpão Nativo neste domingo. Em uma marca televisiva, o Neto Fagundes e a Shana
Muller; no outro, o Elton Saldanha recebendo o Luis Carlos Borges. Esses amigos
e companheiros de esforços são alguns dos nomes do trabalho elaborado do
regionalismo gaúcho voltado à expansão universal sem depender da ajuda das
instituições que a isso deveriam se dedicar. É preciso mais do que boa vontade
dos dirigentes. Competência é um fator escasso?
Como declarei em
outras oportunidades, o Borges é um dos principais nomes a merecer o
reconhecimento pela luta inegável em prol da integração artística com os povos latino
americanos. No programa, ele comentou que foi a partir de 1960, ainda muito
jovem, que percebeu gaiteiros representativos dos missioneiros, como o Tio
Bilia, sem executar melodias como o chamamé. Isso o motivou a se aproximar do
ritmo que tem a sua moradia mais tradicional em Corrientes na Argentina. Com os
costados do Borges, grandes artísticas chamameceiros participaram do programa
coordenado pelo Elton. Enquanto a TVE – Educativa, como se denomina – puder
resistir à incoerência do governo Sartori e políticos contraditórios que
pretende extingui-la, esse programa pode ser revisto e é uma recomendação que
faço para quem gosta de ouvir arte com qualidade.
O destaque deste
texto reflexivo no Chasque Pampeano tem o propósito de sublinhar e tornar maiúscula
a observação feita pelo Antonio Tarragó Ros durante a sua participação no
Programa Galpão Nativo. Em meio à conversação, Tarragó comentou que os governos
dos povos têm, geralmente, uma estrutura organizada para o Estado com três
poderes: poder executivo, poder legislativo e poder judiciário. O que ele
argumenta é que, no interesse da valorização dos povos em suas regionalidades
territoriais, seja estabelecido um quarto poder. Para ele, o poder cultural
será o único capaz de acrescentar essas garantias, praticamente espontâneas,
porque nascem das manifestações populares e tradicionais das gentes de cada
localidade.
De há muito, para
nós gaúchos e brasileiros, comenta-se a existência desse quarto poder,
admitido, mas não institucionalizado, no poder da imprensa e, em si, dos
veículos de comunicação. Os monopólios dessa área são riscos evidentes.
Portanto, seja como quarto ou quinto poder, quero sublinhar essa visão que,
ainda bem, começa a crescer com focos em muitos lugares do mundo das Américas.
Por que não um poder cultural entre os povos?
Boaventura de Sousa
Santos tem percorrido os meios acadêmicos combatendo a inconsciente defesa e o incentivo
aos interesses serem voltados ao norte, notadamente, o norte americanismo.
Sobram exemplos, como a metodologia científica universitária, ao exigir nos
projetos e trabalhos que se exponha uma questão “norteadora”. A isso,
Boaventura menciona o “sulear”, ou seja, a ecologia dos saberes direcionadas
também aos valores do sul, como a autovalorização e a consciência sulamericana.
Freire, tão
associado às intenções e práxis do construtivismo, defende o diálogo interativo
em moldes de rodas de cultura. Assim, denomina o que, muitas vezes, se tem
praticado como rodas de conversa nos encontros científicos ou ações
interdisciplinares e com as comunidades.
Neste instante,
quero aproveitar a oportunidade lembrada pelo Tarragó para incentivar mais
dedicações e denúncias por esses valores. Também, os tradicionalistas sabem do
valor da cultura. Está na própria Carta de Princípios do Movimento
Tradicionalista. No entanto, entre a letra fria dos regulamentos e publicações
textuais com a prática do cotidiano dos tradicionalistas, há vales quase
instransponíveis, porque o Barbosa Lessa segue muito atual na certeza de que
“embora seja um Movimento de massa, o Tradicionalismo – sempre – será
compreendido por uma minoria intelectual”. Aos seus dirigentes não compete tão
somente ceder espaços e, sim, impulsioná-los fisiológica e epistemologicamente.
Aí, continua residindo o principal obstáculo: poucos têm o interesse em que
essas distâncias e óbices sejam reduzidos. O discurso não é a prática, com
certeza. Inúmeras ações gestoras podem comprovar com facilidade essa situação
de descaso e de privilégios individualizados.
O que a cultura pode
acrescentar às pessoas são conjuntos de compreensões e iniciativas
emancipatórias. Pessoas livres não são manobradas com a mesma domesticação. Se
estiverem atentas e conscientes, então, não há argumentos capazes de demovê-las
do direcionamento que escolherem. Os dirigentes e os governos –
indistintamente, todos – sabem e se aproveitam disso. Se dependermos dessas
intenções, os passos serão mínimos. Ninguém tenha dúvida.
Unir a cultura dos
povos será, sim, um poder incomensurável! Não há medidas capazes de saber e
dimensionar a força desses sentimentos e sedimentos que reúnam os povos por
seus fatores culturais. Além disso, se cada local valorizar a sua cultura, mais
raízes serão aprofundadas. Com a lateralidade do universalismo cultural se
garantirão outras forças de resistências às tentativas do escravismo e da
exploração.
Quando se têm
notícias de cortes de verbas, de encerramento de espaços de divulgação dos
assuntos comunitários como a TVE e do imperialismo ou neoliberalismo que
transforma em número e quantidades todas as coisas, o lucro de uns será a perda
de muitos. Entendo as necessidades revisionais dos intuitos gestores e dos
programas governamentais, como percebo a importância de que os poderes formais
do executivo, legislativo e judiciário precisam análises, avaliações e
atualização de suas propostas e mecanismos, inclusive, nos espaços intra e
interinstitucionais.
Contanto, a responsabilidade
que tem sido assumida pelos artistas, leiam-se poetas, musicistas, cantores e
intérpretes em geral da arte e da cultura dos povos – e de longa data como
venho referindo – carece de posicionamentos mais definidos, mais evidentes,
mais comprometidos e mais coerentes por parte daquelas pessoas que acessam a
cargos, a maioria bem remunerada, e fazem belíssimos discursos sem torná-los
efetivos e eficazes como atos de gestão.
Uma ressalva que se
desgarra, por derradeiro, serve a essa defesa pela construção de poderes
culturais de aproximação e interatividade entre os povos: às vésperas do
reinício das aulas, como os governos fizeram muito pouco para preparar os
prédios PÚBLICOS das escolas, lá estão pais, mães, alunos, alunas, professores,
professoras, demais trabalhadores e trabalhadoras da educação e pessoas da
comunidade a pintar e reformar os locais. Percebi que essas iniciativas,
elogiadas pelo poder da imprensa, raramente, contaram com cobranças mais fortes
e verdadeiramente duras contra a inoperância e insuficiência das ações de quem
se propôs e assumiu os encargos públicos.
Sejamos, portanto,
mais eloquentes e decididos nas escolhas. Saibamos nos reunir aos interesses
leais à cidadania, à cultura e ao bem viver em sociedade. A cultura, um poder
forte a nascer da unidade dos povos!
Proseamos mais de outra feita, tomara mais conscientes,
participativos e reivindicadores dos nossos direitos!
Partenon,
Porto Alegre, 05 de março de 2017.
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